Folha de S. Paulo


Custos fixos deixam motoristas do Uber e taxistas com bolsos apertados

De um lado, taxistas pagam taxas anuais à prefeitura para manter a licença de trabalho –sendo que muitos deles, para poder rodar na cidade de São Paulo, desembolsam ainda uma diária de R$ 190 para empresas donas das frotas.

De outro, motoristas que investiram na compra de carros arcam com um desconto obrigatório de 20% no valor de cada viagem para atuar por meio do aplicativo Uber.

Esses que entraram no mercado de transporte individual por meio do aplicativo que disponibiliza motoristas autônomos para fazer transporte privado estão acumulando gastos que os deixam com bolsos tão apertados como os dos taxistas legalizados da cidade.

De origem americana, o Uber disponibiliza carros de luxo com motoristas que cobram tarifa 5% superior à de um táxi no período diurno.

A chegada do aplicativo à cidade, em maio de 2014, deixou taxistas revoltados, sob o argumento de que se trata de um esquema ilegal no qual os donos de carros seriam beneficiados por um processo de concorrência desleal.

Considerado ilegal pela Prefeitura de SP, o Uber motivou um projeto de lei para vetá-lo. O texto foi aprovado em primeira discussão na Câmara e, caso avance em segunda votação, seguirá para sanção ou veto pelo prefeito Fernando Haddad (PT).

O aplicativo é questionado na Justiça em outros países, sendo alvo de protestos em alguns deles, como na França.

Motoristas do Uber não pagam as taxas cobradas dos taxistas, mas sofrem um desconto de 20% –aplicado pela empresa– por cada viagem.

Porém, para trabalhar, não precisaram concorrer em sorteios de alvará, o último deles em 2011, nem se submeter a métodos ilegais, como compra e aluguel da licença para rodar, comuns num mercado informal ao longo dos anos.

Eles também não têm benefícios exclusivos aos cerca de 34 mil taxistas da cidade, como a isenção de IPVA (Imposto sobre Circulação de Veículos Automotores) e desconto de 30% na compra de carro.

A Folha fez um levantamento dos custos das duas modalidades de motoristas.

Constatou, por exemplo, que motoristas de empresas de frota de táxi são os que mais precisam rodar para lucrar. Como não são donos dos carros, pagam diária de R$ 190 às empresas responsáveis.

"Já saio para trabalhar com essa dívida. Preciso trabalhar dia e noite para ganhar só para a sobrevivência da minha família", disse o taxista Pedro Paulo Gerlach, 54, empregado de frota há oito anos. "Agora vem o Uber, que não paga taxa nenhuma para a cidade para lucrar. Não é justo."

Colega de ponto de Gerlach, o taxista Carlos Ribeiro, 53, paga ilegalmente R$ 1.500 ao dono de um alvará para atuar na cidade. "E ainda tenho custos de financiamento do carro, seguro e todas as taxas", disse.

Para ele, motoristas do Uber podem escolher a viagem e a distância. "A gente que trabalha no ponto faz viagem de R$ 10. Por lei, não pode recusar passageiro."

Motorista do Uber e ex-taxista, Leandro Farias, 31, discorda. "Investi num trabalho bom e honesto. Vendi um caminhão para comprar um carro financiado e tenho gastos com seguro e IPVA" disse.

Advogados afirmam que o Uber esbarra na falta de regulamentação para atuar.

A prefeitura diz que fiscaliza o comércio de alvarás e que há 300 licenças canceladas por vários motivos, entre os quais está a morte do titular.

O Uber diz que a empresa paga todos os impostos devidos. Questionada sobre lucros do serviço, não respondeu.

Editoria de arte/Folhapress

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