Folha de S. Paulo


Convidados por Marco Feliciano, ex-gays contam suas histórias na Câmara

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara ouve na tarde desta quarta-feira (24) oito pessoas que afirmam ter deixado de ser homossexuais e especialistas no assunto.

Segundo o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), autor do requerimento para a realização da sessão, as pessoas que decidiram não ser mais gays, sofrem um preconceito duplo.

Na reunião, Feliciano quer debater o posicionamento das pessoas convidadas sobre a questão e os problemas por elas enfrentados na sociedade. Para o deputado, tanto os homossexuais quanto os heterossexuais acusam a população de ex-LGBTs de serem mentirosos, dissimulados e até mesmo doentes mentais.

Feliciano defende ainda a aprovação de uma lei que possa proteger do preconceito essas pessoas e pede que haja programas governamentais para promover a visibilidade e o respeito por elas. "Elas são pessoas excluídas da proteção do Estado, seguem sem direitos, sem vez e nem voz, neste suposto Estado democrático de Direito", defende ele.

Foram convidados três pastores, uma missionária, dois psicólogos, um estudante de teologia, e uma estudante de psicologia.

Pastor evangélico, Feliciano foi presidente da comissão em 2013 e é declaradamente contrário ao casamento homossexual.

Ed Ferreira/Folhapress
Jodie Pinto Miranda mostra cartaz com sua foto da época em que era travesti durante audiência na Câmara
Jodie Pinto Miranda mostra cartaz com sua foto da época em que era travesti durante audiência na CCJ

DEPOIMENTOS

Com histórias semelhantes, permeadas por abusos sexuais e agradecimentos à igrejas, quatro convidados contaram como iniciaram suas vivências homossexuais e decidiram deixar a prática quando se descobriram heterossexuais.

"Como eu poderia viver minha homossexualidade se eu estava infeliz como gay? Se estava mal com esta prática? Hoje eu venci esse problema na minha vida", declarou o pastor, cantor evangélico e conferencista Robson dos Santos Alves.

"A pessoa que quer deixar de ser homossexual ela pode deixar. A grande verdade é que eu nunca fui gay. Eu fui levado para a prática homossexual", completou o cantor, que contou ter sido abusado sexualmente quando era criança.

Os convidados para o debate defenderam que as pessoas que deixaram de ser gays, tomaram tal decisão por estarem certas de que não nasceram como homossexuais. Eles reclamaram também que é difícil procurar ajuda, tanto psicológica quanto médica, para tratar seus casos quando decidiram mudar de orientação sexual.

"Eu deixei a prática pela minha força de vontade e pela fé. Mas eu continuo sofrendo porque as pessoas não conseguem entender que é possível deixar de ser gay. Os únicos que conseguem acolher essas pessoas são os religiosos", disse Alves.

Já o pastor, professor e radialista Arlei Lopes Batista, afirmou que mesmo nas igrejas é difícil encontrar ajuda. "Eu encontrei a fé cristã e meu início foi muito difícil porque ela também não está preparada para essa acolhida", disse.

Durante os depoimentos, grupos ligados aos parlamentares da bancada evangélica aplaudiram as falas em diversos momentos. A audiência pública ainda acontece na Comissão de Direitos Humanos.

CONSELHO DE PSICOLOGIA

Durante a sessão, representantes do CFP (Conselho Federal de Psicologia) distribuíram um material sobre o posicionamento da entidade que foi rasgado por pastores presentes à audiência. O CFP defende que a homossexualidade não é doença, distúrbio ou perversão. Durante a audiência, o vice-presidente do órgão, Rogério de Oliveira Silva, afirmou que os psicólogos do país não têm autorização para tratar casos de homossexualidade.

"Não cabe ao psicólogo, em momento algum, definir que vai fazer o tratamento de algo que não é considerado uma doença. Cabe a nós, profissionais de saúde, acolher o sofrimento daqueles que nos procuram mas sem exercer convicções ideológicas, religiosas ou de qualquer outra natureza", defendeu Silva.

Após os depoimentos, Feliciano contestou a posição do CFP. "Não vi nenhum deles aqui contar um caso em que não tivessem passado por um abuso na infância. E quando procuraram ajuda, os psicólogos não os trataram por medo de serem cassados. Tem que haver alguma forma de essas pessoas serem ouvidas, serem tratadas. Não é doença, é um fenômeno de comportamento e por isso elas tem que ser tratadas", afirmou.


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