Folha de S. Paulo


No Rio, ato contra intolerância reúne seguidores de várias religiões

Representantes de diversas religiões se reuniram em um ato contra a intolerância religiosa na manhã deste domingo (21), na Vila da Penha, zona norte do Rio. A manifestação ocorreu uma semana após a estudante Kayllane Campos, 11, levar uma pedrada na cabeça por estar vestida com roupa de ração –traje branco típico do candomblé, religião de matriz africana.

No momento da agressão, Kayllane estava acompanhada de outros adeptos da religião quando dois homens, que seguravam uma bíblia, xingaram o grupo. Um desses homens jogou a pedra que acertou a menina provocando um corte em sua cabeça. Os agressores não foram identificados.

A estudante esteve na manifestação acompanhada pela avó, Kátia Marinho, que coordena um terreiro candomblecista, e da mãe, Karina Coelho, que é evangélica.

Erbs Jr./Frame/Folhapress
Lideranças religiosas fazem ato contra a intolerância religiosa no Largo do Bicão na Vila da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro neste domingo (21) em apoio a menina Kailane Campos, 11 anos, vítima de um pedrada há uma semana quando voltava de um terreiro de candomblé. Eles saíram em passeata do Largo do Bicão e foram até ao local onde a menina foi agredida Foto: ERBS JR./FRAME *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
Lideranças religiosas fazem ato contra intolerância no Largo do Bicão, zona norte do Rio, neste domingo

"O fascismo começou assim, com a perseguição de grupos minoritários. O ato, além de promover o respeito entre as diferentes religiões, como vemos na família da Kayllane, serve para defender o estado democrático", afirmou o babalaô Ivanir dos Santos, porta-voz da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, que reúne diversos segmentos religiosos.

Um dos organizadores da passeata, o pastor batista João de Mello, fez um culto no início do ato". Ela foi apedrejada a cerca de 300 metros da nossa igreja e, quando ficamos sabendo, entramos em contato com a família. Oramos juntos em minha sala", disse.

Segundo Melo, além dos representantes da Igreja Batista Carioca e de religiões de matriz africana como o candomblé e umbanda, participaram da manifestação membros das igrejas Luterana, Católica e do Movimento Hare Krishna.

"A intolerância sempre esteve presente. Quando eu era criança fui ridicularizado porque era da Igreja Evangélica. Acredito que hoje esses casos apareçam mais por conta do acesso mais fácil à informação", opinou Melo.

Segundo Santos, a comissão pretende intensificar encontros com autoridades a partir do caso, com a presença da estudante. Nesta segunda-feira (22), está agendado um encontro da menina com o chefe de Polícia do Rio, delegado Fernando Veloso. Já na quinta-feira (25), Kayllane vai participar de uma audiência pública na cidade, que deve contar com a presença do ministro de Direitos Humanos, Pepe Vargas (PT).

De acordo com levantamento da Fundação Getúlio Vargas, o Estado do Rio reúne a maior proporção de religiões afrobrasileiras (1,61%) e, ao mesmo tempo, é líder no número de denúncias de discriminação religiosa em 2014: foram 39 ligações ao Disque 100 denunciando a intolerância.


Endereço da página:

Links no texto: