Folha de S. Paulo


Primeira colônia de imigrantes no Brasil queria mandar arroz para Japão

Previsto para ser lançado nos próximos meses, o livro "Se o Grão de Arroz Não Morre" conta a história da Iguape, primeira colônia japonesa no Brasil -estabelecida na região do Vale do Ribeira (interior de São Paulo) em 1913.

O título do livro faz alusão à intenção inicial dos imigrantes, que era cultivar arroz e exportar o produto para o seu país natal. A ação era incentivada pelo Japão, já que o país sofria com uma superpopulação. O objetivo, porém, nunca foi cumprido.

O autor da obra é o jornalista japonês Masayuki Fukasawa, 49, que mora no Brasil desde 1999. Em novembro do ano passado foi lançada a edição japonesa da obra.

O livro é uma compilação de 127 capítulos publicados em 2013 no "Nikkey Shimbun", um jornal em japonês com sede no bairro da Liberdade e distribuído principalmente na Grande São Paulo. Fukasawa é o editor-chefe da publicação.

Segundo o autor, a colonização da região não é muito conhecida mesmo dentro da comunidade nipo-brasileira, apesar de sua importância.

Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil/Divulgação
Agricultores retratados na década de 1930, no Vale do Ribeira (SP)
Agricultores japoneses retratados na década de 1930, no Vale do Ribeira (interior de SP)

A colônia foi feita depois que o governo do Estado de São Paulo cedeu 50 hectares de terra para a sua instalação em 1912. Ela foi operada até 1942 pela Companhia Ultramarina de Fomento Industrial S.A (KKKK, na sigla em japonês).

"Normalmente os imigrantes trabalhavam em cafezais e pretendiam ganhar dinheiro e voltar para o Japão. Lá, os colonos pretendiam permanecer no Brasil", conta.

Dois anos antes do início da colônia, em 1911, a cidade de Iguape, no Vale do Ribeira, ganhou o título de melhor produtora de arroz do mundo em Turim, na Itália.

Para Fukasawa, provavelmente por isso os japoneses pensavam que o local seria propício para o arroz. Entretanto, acabaram enfrentando dificuldades no cultivo. Também aconteceram outros obstáculos, como a perseguição sofrida por eles durante a Segunda Guerra. "Nem tudo foi bom, mas o balanço é positivo", afirma Fukasawa.

O jornalista entrevistou cerca de cem membros da comunidade japonesa local para escrever a obra, em sua maioria idosos.

JORNAL

O "Nikkey Shimbun" (Jornal Nipo-Brasileiro, em tradução livre) roda cerca de 10 mil exemplares por dia.

"O maior foco são as notícias da comunidade japonesa no Brasil. Depois vêm as notícias internas do Japão. Política, economia, esporte, o que está acontecendo lá", conta Fukasawa sobre o que mais interessa a seus leitores.

O jornal surgiu em 1998 e é fruto de uma fusão entre o "Jornal Paulista", fundado em 1947, e o "Diário Nippak". Fukasawa trabalha na publicação desde 2001.

Segundo ele, para os jornais de língua japonesa em São Paulo (além do "Nikkey Shimbun" há também o "São Paulo Shimbun"), a crise do jornalismo chega de outra forma.

"Para nós é um pouco diferente. A circulação diminui porque os leitores são muito idosos. A média de idade do leitor é de cerca de 75 anos, imigrantes da primeira geração", conta. "Os filhos e netos deles nem sempre sabem japonês", completa.


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