Folha de S. Paulo


Neto de Tomie, Rodrigo Ohtake compara culturas brasileira e japonesa

Rodrigo Ohtake carrega no sobrenome, de origem japonesa, uma das assinaturas mais reconhecidas do Brasil.

Seu pai, Ruy, é um dos maiores expoentes da arquitetura no país, assim como era nas artes plásticas sua avó, Tomie, morta aos 101 anos, em fevereiro último.

Rodrigo, 30, diz encarar a comparação com parentes tão célebres como um desafio, não um fardo. "A gente tem que dar de ombros ao peso que as pessoas põem nos nossos ombros" diz.

Formado pela USP em 2009, ele abriu um escritório próprio, trabalhou como assistente de curadoria em diversas exposições no instituto Tomie Ohtake e esteve na Bienal de Arquitetura de Veneza, em 2014.

Costuma, naturalmente, trocar opiniões com o pai sobre a profissão, aproveitando para isso os almoços dominicais que a família faz, religiosamente, há 36 anos. Fazia o mesmo com a avó, com quem falava apenas em japonês.

Aprendeu a língua ainda menino, ao morar dos oito aos 11 no Japão, com a mãe, que ressalta ser "brasileiríssima".

Karime Xavier/Folhapress
Rodrigo Ohtake, 30, arquiteto, filho de Ruy Ohtake e neto de Tomie Ohtake
Rodrigo Ohtake, sansei (neto de japoneses), é arquiteto, assim como o seu pai, Ruy Ohtake

Ele conta que Tomie, única da família nascida do outro lado do mundo, fez questão de criar seus filhos na cultura brasileira. Seu pai e seu tio chegaram a ser coroinhas na igreja -mesmo sem a avó professar a religião.

A personalidade dela, para Rodrigo, sempre o remeteu a traços profundamente japoneses. "Ela era muito introspectiva, de poucas palavras. Mas incisiva."

Tendo deixado o Japão aos 23 anos, Tomie conservou características típicas daquele país até o fim da vida.

Isso pode ser efeito da educação de lá, que promove uma cultura de comunidade nacional e transmite um forte senso de coletividade. O que se reflete na arquitetura.

"O Japão ainda consegue fazer uma arquitetura nacional. Apesar de muitos profissionais conhecidos serem bem diferentes entre si, você consegue enxergar ali uma arquitetura japonesa. Há uma evolução linear", explica.

"O Ocidente sempre teve ambientes da casa muito compartimentados, enquanto os japoneses sempre usaram espaços mais fluidos e multifuncionais," compara Rodrigo. "É uma arte conceitual, e o que tem conceito é duradouro."

É isso que diferencia, para ele, o estilo minimalista nipônico do esvaziamento gratuito que se costuma praticar.

Mas a característica principal que sublinha na arte do país é outra. Algo que também aponta como principal marca na obra da sua família. "É a intuição. Os japoneses tendem a ser reclusos em termos de expor os sentimentos. Mas deixam sua subjetividade falar através de seu trabalho."


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