Folha de S. Paulo


Há 40 anos, Achados e Perdidos do Metrô de SP recebe objetos inusitados

Nada por ali parece surpreender os funcionários. Documentos, livros, celulares, anéis de noivado e dentaduras podem ser perdidos mesmo. Sim, dentaduras também. Mas, quando alguém esquece uma bengala para cego dentro de um vagão do metrô, aí é para começar a desconfiar.

Há 40 anos é assim na Central de Achados e Perdidos do Metrô. Os objetos ficam 60 dias à disposição de seus donos. Depois disso, são enviados para o órgão emissor (no caso dos documentos) ou doados para o Fundo Social de Solidariedade de São Paulo.

Desde 2008, os objetos que não poderiam ser doados para o fundo são enviados para um museu da instituição. Lá estão itens como máquinas fotográficas, discos de vinil, instrumentos musicais e, sim, dentaduras também.

Em 2014, foram cadastrados mais de 77 mil itens/documentos e devolvidos cerca de 19 mil, o que representa 25% de tudo o que é recebido.

Neste ano, a central recebeu mais de 25 mil itens. Até este mês foram devolvidos aos seus donos mais de 6.000.

Na última semana, quando Tamiris Francis da Silva Pereira, 21, apareceu na Sé para retirar sua bengala perdida na estação República, um mistério se desfez. Como uma pessoa que é cega teria esquecido algo tão importante para se deslocar?

Ela voltava de um treino de goalball, modalidade paraolímpica, em Itaquera, na zona leste, quando perdeu a bengala. "Saímos em grupo, com outras meninas também cegas puxando a fila", diz Tamiris, que mora em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. "Quando o sinal avisou que a porta iria fechar, saímos correndo. Tropecei e deixei cair."

Sem ter como voltar, a saída foi procurar no Achados e Perdidos na Sé, onde a bengala estava em meio a uma coleção de guarda-chuvas.

Esses são os itens menos retirados. Celulares são os mais procurados por seus donos, diz a coordenadora do setor, Cecília Guedes. Consequentemente, são os objetos com maior taxa de retorno aos proprietários.

Já os guarda-chuvas perdidos, dos quais Mário Quintana indagava o paradeiro, esses não vão parar "nos anéis de Saturno", como chegou a escrever o poeta. São os itens com a menor taxa de retorno a seus donos –que raramente aparecem para buscá-los.

"Deve ser porque hoje são objetos baratos, que se compra em qualquer esquina", afirma Cecília.

A Central de Achados e Perdidos funciona na estação Sé, de segunda a sexta-feira, exceto feriados, das 7h às 20h.

Em comemoração aos 40 anos do serviço, até o final do mês uma vitrine na estação São Bento mostra alguns desses itens na exposição "Perdidos Achados", da artista plástica Marcia Gadioli.

Na mesma semana em que Tamires apareceu para retirar sua bengala, outra igualzinha achada por funcionários foi enviada para o museu.


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