Folha de S. Paulo


Com obra em reta final, ciclovia da av. Paulista vai 'espremer' pedestre

A ciclovia que vai marcar a entrada definitiva da bicicleta na avenida Paulista não vai mudar apenas a cara do mais famoso cartão-postal da cidade. A nova pista de bicicletas vai mexer na vida de quem passa por lá, sejam eles pedestres, ciclistas, motoristas ou usuários de ônibus.

O que resta saber é se todos vão ganhar com a novidade, que será inaugurada no dia 28 de junho.

A chance de conflito entre bicicletas e pedestres é o que mais preocupa especialistas e técnicos da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).

Se os ciclistas comemoram porque vão trafegar com mais conforto e segurança pelo tapete vermelho, há temor de que falte espaço para acomodar os mais de 1,5 milhão de pedestres que circulam diariamente pela avenida.

"Conflito vai existir, e é sempre em detrimento do mais fraco", afirma Luiz Célio Bottura, consultor de trânsito e ex-ombudsman da CET.

Para ele, a relação entre ciclista e pedestre tende a ser complicada e não pode ser encarada apenas com otimismo. "Na altura da Augusta, por exemplo, em alguns momentos do dia o fluxo de pessoas é uma verdadeira avalanche. Não sei se o ciclista vai ter paciência de esperar. Serão os únicos semáforos que eles vão respeitar?", indaga o engenheiro.

As bicicletas vão circular em duas mãos pelo canteiro central, paralelas ao trânsito dos carros, motos e ônibus. Isso implica cruzar todas as faixas de pedestres e seguir os semáforos, que serão os mesmos que regulam o fluxo dos veículos motorizados.

TRAVESSIA

Não é raro as pessoas não conseguirem atravessar a Paulista de uma vez –apesar da programação dos semáforos ser feita com esse objetivo. Ao parar no canteiro para esperar, o pedestre terá que ficar rigorosamente no espaço destinado a ele –que ficou ao menos 1 m mais estreito– para não invadir as ciclovias.

"O que vai acontecer é que o pedestre é que terá que se adaptar para evitar acidentes", afirma Bottura.

A prefeitura diz que o pedestre foi a prioridade do projeto e que o espaço é suficiente. "Em todos os lugares, a área de espera, em metros quadrados, ficou maior", diz Suzana Karagiannidis, do Departamento de Planejamento Cicloviário da CET.

A explicação é que, apesar de mais estreitas, as ilhas de pedestres ficaram mais longas com a ciclovia –o que aumenta a área total.

Ela diz ainda que serão feitas ações educativas, como um manual, para orientar ciclistas e pedestres.


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