Folha de S. Paulo


Meninas do Piauí: Solução de estupro coletivo de garotas depende de provas

Duas semanas e meia após quatro meninas entre 15 e 17 anos serem vítimas de um estupro coletivo em Castelo do Piauí, a 184 km de Teresina, a solução do crime depende da confirmação de provas materiais, embora policiais e moradores já tenham anunciado culpados e se refiram a eles como "os monstros do Piauí".

Quatro jovens, também entre 15 e 17 anos, foram apreendidos, e um homem de 40 anos foi preso horas depois do crime, em 27 de maio. Ameaçados de linchamento, foram transferidos para Teresina.

Além do estupro coletivo, as meninas foram espancadas e jogadas de um precipício de oito metros. Por fim, receberam pedradas. Uma delas, Danyelle Feitosa, 16, morreu no último domingo (7).

Os acusados têm passagens por uso de drogas, furtos e roubos e, segundo a polícia, confessaram. Mas as famílias de três dos quatro menores dizem que eles são inocentes —dois afirmam que a confissão ocorreu após espancamento, negado pelas autoridades.

Os pais de um deles dizem ter testemunhas de que seu filho trabalhava na hora do crime.

O primeiro menor detido confessou e apontou a participação do resto do grupo. No hospital, as vítimas também reconheceram, por fotos, os acusados, diz a polícia.

Mas a principal prova material ainda não ficou pronta —um exame de DNA do sêmen dos suspeitos. E só na última quinta (11) a polícia fez uma busca na casa de um dos adolescentes suspeitos, I.V.I., 15, à procura de roupas usadas no dia do crime e objetos pessoais das vítimas. Com 18 BOs em um ano, o garoto suspeito usa drogas desde os oito anos.

O delegado Laercio Evangelista diz que "não resta a menor dúvida" do envolvimento dos cinco. O promotor Cesario Oliveira afirma que "todos abusaram de todas".

OUTRO LADO

As famílias de pelo menos três dos quatro adolescentes apreendidos sob suspeita de estupro coletivo afirmam que eles são inocentes. Duas dizem que a confissão inicial se deu mediante espancamento, negado pela polícia.

O desempregado Adão José de Souza, 40, é apontado pela polícia como mandante. Ele era procurado acusado de assaltar a gerente de um posto de gasolina e de atirar contra ela. Em depoimento, assumiu a autoria do assalto, mas negou a do estupro.

A mãe de B.F.O., 15, diz acreditar na inocência do filho. "Ele pode já ter feito muita coisa errada, mas isso [estupro], não. Ele nega."

O pai de J.S.R. 16, afirma haver testemunhas que viram seu filho trabalhando. "É por acreditar na inocência dele que estou indo atrás. Quero que ouçam as testemunhas. Se no final as provas mostrarem que ele é culpado, tudo bem, ele vai pagar por isso", diz ele, que afirma ter havido espancamento do filho.

A mãe de G.V.S., 17, diz que seu filho começou a se envolver com drogas aos 13 anos, mas que alega inocência nesse caso e diz ter confessado porque foi espancado.

O pai de I.V.I., 15, diz que não falou com seu filho após a apreensão e, por isso, não sabe qual é a versão dele.

O caso está sob segredo de Justiça. A defensora pública que acompanha os suspeitos disse que, por isso, não poderia se pronunciar, nem mesmo para apontar detalhes das alegações dos jovens.


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