Folha de S. Paulo


Previsto para Copa, monotrilho de SP não abrirá nem na Olimpíada

Incentivada pela promessa de inauguração do monotrilho da linha 17-ouro e do fluxo de turistas atraídos pela Copa do Mundo, a empresária Marlene Aranha abriu em 2013 um restaurante ao lado da futura estação Congonhas, na zona sul de São Paulo.

Hoje, em vez de "ouro" nos negócios, convive com a ferrugem que tomou conta das armações expostas sobre vigas e no chão dos canteiros de obras. De tanto atraso, a "linha da Copa" não ficará pronta nem mesmo até a Olimpíada de 2016, no Rio.

"Pensei que meu movimento aumentaria, mas as obras diminuíram os clientes em mais de 10%. A maioria das pessoas não passa aqui por medo. A região ficou isolada, sem segurança", diz.

O empreendimento a cargo do Metrô é agora previsto para 2017 pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) –que também já fez a revisão do cronograma de outras linhas.

Em seu primeiro trecho, de 7,7 km e 8 estações, ligará a estação de trem do Morumbi ao aeroporto de Congonhas. A estimativa é que transporte 420 mil usuários por dia. A obra completa, com 17,7 km, deve custar R$ 5,1 bilhões.

Na linha 17, a aparente deterioração de materiais pendurados ou deixados no chão desperta a atenção de vizinhos –que se queixam ainda da falta de equipes na obra.

"Além de tirar a visão da loja, fecharam a rua. Ninguém mais nos encontra. O pior é eles fazerem isso e só dois ou três 'gatos pingados' trabalham. Nada da obra sair do lugar", diz Rildo Oliveira Jorge, 32, que trabalha em
um comércio de locação de veículos.

A Folha percorreu toda a extensão da linha em dias úteis nas últimas semanas, fora do horário de almoço.

No trajeto, encontrou poucos funcionários. As exceções foram na futura estação vereador José Diniz (onde havia dezenas) e no pátio de manobras do Campo Belo -onde foi agendada uma entrevista com Walter Castro, diretor de engenharia do Metrô.

Castro afirma que a sensação de que a obra está quase parada não reflete a realidade –diz haver 1.300 funcionários atuando diariamente.

Ele ressalta que há obras paralelas na região. "Estamos fazendo uma canalização naquela região de Congonhas. Ali tem um histórico de alagamentos e não podemos fazer uma estação em cima de um lugar nessas condições."

O Metrô afirma que esses sinais de ferrugem não representam riscos à estrutura. Para a doutora em engenharia de estruturas pela USP Karen Niccoli Ramirez, como parece ser superficial, e não estrutural, esse problema poderá ser revertido com limpeza.

Editoria de Arte/Folhapress

A corrosão, porém, dá a sensação de que se está numa obra velha, e não nova, que ainda será inaugurada.

"Vejo ferrugem desde que começou a chover", diz Ademir da Costa, 33, piloto comercial, que passa pela obra diariamente há cinco anos, mas diz não ver evolução significativa. "Até a Copa tinha muita gente trabalhando, depois sumiram. No último ano, só tiraram entulho de uma viga que tinha caído", afirma.

O diretor do Metrô diz que um dos principais motivos de atraso na linha 17 foi a demora para a liberação da licença ambiental. Também cita entraves nas desapropriações e nos tipos de solo da região.

Segundo Castro, 20% dos trilhos ainda não foram colocados por causa da suspensão, pelo Ministério do Trabalho e Emprego, desde 2014, do içamento de vigas –devido à morte de um operário.

"Recentemente, eles liberaram a instalação dos trilhos retos. Mas ainda pedem exigências para as curvas de raios menores", afirmou.


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