Folha de S. Paulo


Bairros nobres de SP temem 'invasão' do comércio com novo zoneamento

Casarões de luxo da rua Polônia, no Jardim Europa, um dos bairros mais caros de São Paulo, exibem nas suas fachadas imponentes adereços inusuais: faixas de protesto contra a possível chegada de estabelecimentos comerciais por ali.

Desde o início do ano, quando começaram as discussões sobre a nova lei de zoneamento -que define o que pode e o que não pode ser construído em cada bairro- elaborada pela gestão Fernando Haddad (PT), o pânico dos moradores tem um motivo só: o risco de as "ilhas de excelência" residenciais receberem novos vizinhos, como restaurantes, clínicas ou mercados. O projeto chegou à Câmara na terça-feira (2).

Muitas das ruas dos Jardins já podem receber estabelecimentos comerciais pequenos, como, por exemplo, consultórios médicos ou um escritório de advocacia.

Presidente da Ame Jardins, João Maradei, diz que a briga dos moradores se deve à possibilidade de tornar o espaço comercial mais "permissivo".

"Mesmo nas ruas dos Jardins onde o comércio já é liberado há muito mais restrições. O novo zoneamento pode liberar um mercado, uma padaria ou casa noturna onde hoje só é permitido consultório dentário", afirma.

Ernesto Rodrigues/Folhapress
São Paulo - SP - Brasil - 03/06/2015 : LEI DE ZONEAMENTO : A rua São Benedito Via é uma das que receberá mais estabelecimentos comerciais com a nova lei de zoneamento.Restaurantes para até 500 pessoas e escolas, por exemplo, podem mudar a cara do local, as moradoras do bairro Sueli Pereira ( de oculos) e Heloiza Bizzo. Foto Ernesto Rodrigues/Folhapress.COTIDIANO) cod.0628
A rua São Benedito, no bairro Alto da Boa Vista, é uma das que poderá receber estabelecimentos comerciais com a nova lei de zoneamento

A ampliação do comércio deve ocorrer em ruas como Estados Unidos, Colômbia e avenida Europa, o que pode impactar as vias próximas.

"Os Jardins são exemplos de bairros planejados e tranquilos que deveriam servir de exemplo. A prefeitura quer acabar com isso", afirma o administrador de empresas Matteus Amato, 57, um dos residentes da rua Polônia.

Morador da rua Iraci, no Jardim Paulistano, o bacharel em direito Frederico Pessoa, 34, diz temer que o investimento na compra de uma casa na via estritamente residencial vire um "pesadelo".

"Financiei uma casa em 25 anos sonhando com a tranquilidade da minha família. Não quero acordar um dia e me deparar com mais um shopping perto de casa",diz.

Segundo ele, a região já tem vários pontos comerciais irregulares. "A prefeitura agora quer coroar o cara que é ilegal dando a autorização para ele se instalar", diz.

Na rua São Benedito, no Alto da Boa Vista, zona sul de São Paulo, a permissão para que a via receba comércios como restaurantes para até 500 pessoas divide opiniões.

Para o representante comercial Claudio Kalil, 41, morador da rua, a tendência é o trânsito piorar. "O dia inteiro é assim", diz ele apontando para o congestionamento.

Apesar de ser uma zona exclusivamente residencial, ali já existem pequenos escritórios e consultórios, muitos deles funcionando com base em liminares na Justiça.

A corretora de seguros Sueli Pereira, 63, dona de escritório na rua, diz que não é contrária ao plano. "Não dá para segurar o desenvolvimento". A professora de dança Heloísa Bizzo, 58, concorda. "O plano atende uma realidade que já existe na cidade".

QUARTEIRÃO

A prefeitura diz que as zonas estritamente residenciais são só 4% da cidade -boa parte em regiões nobres, como Morumbi, Jardins e Alto de Pinheiros (zona oeste).

Ontem, o prefeito criticou vereadores oposicionistas contrários ao projeto.

"Tem vereador que representa só 0,1% da população, vereador que só pensa no seu quarteirão. Eu respeito, mas a tarefa do executivo é representar 100%, tenho que olhar para o conjunto", disse.


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