Folha de S. Paulo


Mafioso italiano detido no Recife era pai dedicado e cordial com os vizinhos

Os moradores do Sancho, na periferia do Recife, mal conseguem acreditar que viviam tão perto de um poderoso chefão –Pasquale Scotti, 56, que comandou o braço militar da máfia Nova Camorra Organizada, de Nápoles.

Acusado de participação em 26 assassinatos na Itália entre 1980 e 1983, além de extorsão, porte ilegal de armas e resistência, Scotti vivia com a família brasileira em uma casa com pintura desgastada.

Na terça (26), saiu cedo para deixar na escola os dois filhos, de 10 e 15 anos, que teve com uma brasileira, com quem se casou em 1997. Logo depois, quando tomava café em uma padaria, foi preso por agentes da Polícia Federal.

Em depoimento, Scotti disse que chegou ao Brasil por volta de 1986, adquiriu documentos falsos em Fortaleza e assumiu a identidade de Francisco de Castro Visconti.

Policia Federal/Efe
Pasquale Scotti, em prédio da Polícia Federal no Recife, após ser preso nesta terça (26)
Pasquale Scotti, em prédio da Polícia Federal no Recife, após ser preso nesta terça (26)

Para os vizinhos, Francisco não tem nada a ver com Scotti. "Não tem jeito de ser ele", disse à Folha o amigo da família Luiz Gonzaga, 25.
Scotti e a mulher eram vistos como uma família comum. Todos os dias, ele levava as crianças à escola. Às quartas e aos domingos, ela ia a uma igreja batista.

Na frente da casa, a mulher administra uma loja de roupas, que permaneceu fechada após a prisão.

Chico, como era conhecido, levava uma vida discreta e não ostentava riqueza. Aos fins de semana, ia ao Bar de Marcos, a duas casas da sua. Bebia cerveja e vodca. Às vezes, levava algumas garrafas.

Torcedor do Sport, assistia a alguns jogos no bar e foi alvo de chacota dos vizinhos na Copa, quando a Itália foi eliminada. Não deixou barato: "O Brasil também vai sair".

"Ninguém desconfiava. Ele nunca se aviltou, não falava de violência, era um pai dedicado, cordialíssimo", diz o comerciante Marcos Leite.

Desde a prisão de Scotti, sua mulher, que teve o nome preservado pela polícia, evita falar com jornalistas. "Eles estão arrasados. Para ela, não existe Pasquale, só existe o Francisco", diz Gonzaga.

NEGÓCIOS

Pasquale Scotti viveu no Recife por quase 30 anos sem levantar suspeitas. Nesse período, atuou como empresário, corretor de imóveis e gerente da Piroex Eireli, uma empresa de fogos de artifício onde atuava quando foi preso.

Nos anos 90, por quatro meses foi sócio do italiano Roberto Pagnini na Sampa Night Club, uma boate frequentada por garotas de programa na zona sul do Recife.

Como corretor, Scotti sofreu um processo com pedido de indenização. O italiano é acusado de intermediar a venda de um terreno que, antes de ser passado para o nome do comprador, foi penhorado para cumprimento de dívidas trabalhistas.

"Meu cliente foi lesado nessa negociação. O imóvel foi executado na Justiça do Trabalho enquanto já tinha sido vendido para o meu cliente", disse o advogado Diego Ramos Medeiros.
Scotti ficará preso em Brasília até o STF analisar sua transferência para um presídio. A Itália tem 90 dias para pedir sua extradição.

Editoria de Arte/Folhapress

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