Folha de S. Paulo


Invasão de coelhos: cidade de SP usa adoção para conter superpopulação

Desconfiados, eles surgem aos poucos por entre as árvores. Alguns já nem se importam com a presença do homem. Ficam esparramados na terra, perto das tocas feitas no barranco. São de todas as cores. E são muitos.

Os coelhos surgiram na lagoa do Jardim Piratininga, em Limeira, na região de Campinas, há três anos. Eram cerca de 20. Abandonados no local, começaram a se reproduzir e, agora, já são 400.

Para controlar a superpopulação, a prefeitura, em parceria com uma ONG local de defesa dos animais, criou um programa de adoção. Antes de serem entregues aos novos donos, porém, os coelhos machos são castrados.

O objetivo é evitar o abandono e controlar os nascimentos, segundo Giuliana Quitério Buzolin, diretora de proteção e bem-estar animal da prefeitura.

Para Giuliana, se eles continuarem a se reproduzir, a tendência é que os donos abandonem parte das crias. Além disso, na lagoa eles não têm predadores.

Os bichos são presos numa área, levados para cirurgia e depois entregues aos novos donos ou devolvidos ao local.

Como a lagoa se tornou um atrativo na cidade, nem todos os coelhos serão doados. Até agora, segundo a prefeitura, 20 foram entregues a interessados. Nesta semana, estão previstas mais 40 castrações.

Ao todo, cerca de 200 pessoas estão cadastradas no site da ONG (www.alpa.org.br) para adoção.

"É importante o manejo desses animais, porque eles não são selvagens e foram abandonados no local", disse o professor Marcos Alexandre Ivo, do curso de veterinária da Faculdade de Jaguariúna (a 123 km de São Paulo).

Segundo ele, os coelhos têm um ciclo reprodutivo curto, de 28 dias, o que favorece o crescimento rápido da população. O ambiente propício, com alimento e sem predadores, também contribui.

"Após cinco meses do nascimento, as coelhas já estão prontas para a reprodução."

Na lagoa há também porquinhos-da-índia –bichos domésticos que também foram abandonados. Eles convivem harmoniosamente com capivaras e ratões-do-banhado.

De acordo com Giuliana Buzolin, da prefeitura, outro problema é que os "visitantes" da lagoa atiram alimentos para os coelhos, o que atrai ratos e baratas. Moradores do entorno já reclamaram.

Ao redor da lagoa funcionam um hospital e lanchonetes, além de residências. Não há, porém, avisos para não alimentar os bichos.

"Eles não precisam dos alimentos porque o ambiente onde estão fornece", diz. Eles comem grama, folhas e frutas.
Dono de uma lanchonete há oito anos no local, o comerciante José Sanches, 58, diz que a prefeitura deveria dar mais atenção para a lagoa, para transformá-la em um parque dos coelhos.

"Os coelhos não nos preocupam. O que preocupa são as capivaras, o carrapato-estrela [que causa febre maculosa em humanos e se hospeda nas capivaras], a dengue e a falta de limpeza na lagoa. Antes, ela tinha água. Agora só tem mato", disse Sanches.

A diretora informou que há estudos para desassoreamento da lagoa, que está quase seca, e um trabalho de manejo com as capivaras, de forma a não permitir que elas entrem na lagoa pelo córrego que passa na região.

"A lagoa está abandonada. O pessoal vem ver os coelhos, mas não pode entrar", afirma o aposentado Luiz Lima, 68.


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