Folha de S. Paulo


Polícia apreende adolescente suspeito de esfaquear médico na Lagoa, no Rio

Policiais da Divisão de Homicídios do Rio apreenderam, na manhã desta quinta (21), um adolescente de 16 anos. Ele é apontado como responsável por esfaquear o médico Jaime Gold, 57, na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul da cidade, na terça (19).

Gold morreu horas depois. O menor negou que tenha atacado e roubado a bicicleta do cardiologista. Admitiu apenas a prática dos roubos. Esta é a 16ª passagem dele pela polícia.

O delegado Rivaldo Barbosa, da Homicídios, disse que chegou ao jovem a partir do relato de uma testemunha e de imagens de câmeras de segurança. Ele garante ter a certeza de que o garoto atuou no assalto ao médico. A bicicleta de Gold não foi localizada.

"Me chamaram a atenção a frieza do infrator e a forma covarde, sem nenhum sentimento pelo outro ser humano (como ele agiu). Foi uma forma brutal como o médico foi atingido. Ele recebeu no mínimo quatro golpes. A ação foi sorrateira, por trás, com traição", disse.

Nos primeiros quatro meses de 2015, cinco roubos seguidos de morte tiveram o uso de facas. O mesmo número do mesmo período em 2014.

Fabio Rossi/Ag. O Globo
Adolescente é apreendido sob suspeita de participar do assalto que terminou com um médico esfaqueado e morto na Lagoa
Adolescente é apreendido sob suspeita de participar da morte de médico na Lagoa Rodrigo de Freitas

O jovem é morador da favela do Mandela, zona norte do Rio, a cerca de 20 quilômetros da Lagoa Rodrigo de Freitas. É para lá que leva as bicicletas roubadas. Na comunidade, as bicicletas eram vendidas para outras pessoas, usadas em novos assaltos ou trocadas por drogas com os traficantes da Mandela ou do Jacarezinho. As duas comunidades possuem UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).

Em sua casa, os policiais encontraram nove bicicletas. Uma delas, canadense, da marca Rocky Mountain foi adquirida em 2012, nos Estados Unidos. Ela está avaliada em R$ 30 mil.

A ficha do menor na polícia do Rio é extensa: 15 anotações criminais até esta quinta (21). Doze referem-se a roubos e furtos, mas há registro também por uso de drogas e desacato. As áreas de atuação são o entorno da própria Lagoa, nas ruas do Leblon, Ipanema e Copacabana –ele praticou 11 crimes na zona sul, região mais rica da cidade.

As medidas judiciais aplicadas ao menor totalizaram, neste período, no máximo três meses em unidades de menores. Nunca ficou internado em regime fechado. Ele respondeu a nove processos, sendo que cinco foram considerados improcedentes porque as vítimas não compareceram. As penas aplicadas a ele, apesar desta ficha, foram apenas advertências, liberdade assistida ou semi-liberdade.

O primeiro caso aconteceu em 2010 quando ele tinha 12 anos ao praticar um roubo na Lagoa. Em novembro do ano passado, policiais da UPP Mandela apreenderam o jovem em um dos acessos da favela. Ele levantou suspeitas ao chegar ao local numa bicicleta de cor laranja do programa Bike Rio, de aluguel das "magrelas".

Após ser levado para a delegacia, o menor foi conduzido para o Juizado de Menores. Na ocasião, a sua ficha já registrava 11 passagens. A Justiça decidiu então indiciar os seus pais por abandono numa tentativa de frear as ações do menor nas ruas. Não adiantou.

Ele se envolveu em mais quatro roubos, todos com o uso de faca, na zona sul do Rio. A sua última apreensão havia acontecido em 16 de janeiro, no Jardim Botânico, na zona sul. Na ocasião, policiais militares o apreenderam após ele praticar um furto. Apesar de ser uma ação sem prática de violência, a Justiça entendeu que ele deveria cumprir semi-liberdade por sua ficha judicial.

O menor cumpriu a medida por um mês até fugir dias antes do Carnaval. Seu mandado de busca e apreensão estava em aberto até esta quinta quando os policiais civis o apreenderam. "Temos que fazer uma reflexão sobre tudo isso. Nesse caso (a morte do médico), ele já está detido em razão de uma decisão judicial. Mas esse caso, assim outros, depende de uma questão social", disse o delegado.

Divulgação
ONG Rio de Paz faz ato no local onde médico foi esfaqueado durante assalto na lagoa Rodrigo de Freitas
ONG Rio de Paz faz ato no local onde médico foi esfaqueado em assalto na Lagoa Rodrigo de Freitas

QUESTÃO DE POLÍCIA

O secretário de Segurança do Estado do Rio, José Mariano Beltrame, disse nesta quarta (20) que são "inadmissíveis" os recentes assaltos registrados na Lagoa. "Um lugar como a Lagoa Rodrigo de Freitas não pode, de maneira nenhuma, ser alvo desse tipo de atitude, porque é um local onde todos nós frequentamos, onde todos nós gostamos de ir, gostamos de frequentar, é um cartão postal. E nós não podemos admitir de maneira nenhuma que ações como essa aconteçam", disse.

Já o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), disse nesta quinta que o problema dos assaltos com faca na cidade é uma questão de polícia, e não social.

"Menor praticando crime é um problema de polícia, não social. O poder público tem responsabilidade de acolher, mas é uma ação criminosa. O próprio estatuto da criança e do adolescente, sem a redução da maioridade penal, prevê punição. Uma pessoa que sai de casa com uma faca e agride outra a ponto de matá-la tem que ser tratado com a dureza da força policial. A gente precisa diferenciar o delinquente do problema social."

Ainda assim, o prefeito não nega que a cidade precisa de melhorias no campo social. "Temos um desafio no Rio enorme no campo social, mas isso não pode justificar tudo. Isso levou o Rio a muitos problemas no passado. Tem hora que é segurança mesmo, trabalho policial. Garanto que, se tiver policiamento, o delinquente fica inibido."

Ele afirmou que considera o trabalho da prefeitura na Lagoa adequado. "A Lagoa não é um lugar mal cuidado da cidade. Refizemos a iluminação da Lagoa há dois anos. Em geral, ela fica abaixo das árvores. Se for necessário, ampliaremos."

OUTROS CASOS

A morte do médico não é o primeiro caso de violência que acontece na pista de lazer da Rodrigo de Freitas. No dia 19 abril, os ciclistas Victor Didier, 19, e Felipe Schuchmann, 14, foram esfaqueados e tiveram suas bicicletas roubadas.

No dia 25 de abril, um adolescente de 14 anos, que é aluno de remo do Flamengo, foi atacado por adolescentes quando andava de bicicleta. Ele levou uma facada dos assaltantes no ombro esquerdo.

No dia seguinte, policiais militares do 23º BPM (Leblon) apreenderam dois menores armados com uma faca. Levados para a delegacia, a dupla foi reconhecida pelo atleta de remo do Flamengo que teve a bicicleta roubada um dia antes da prisão dos adolescentes. No mesmo dia um outro homem também foi roubado e esfaqueado na Lagoa.


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