Folha de S. Paulo


Aposta de Alckmin para aliviar Cantareira será obra provisória

A principal aposta do governo Geraldo Alckmin (PSDB) para aliviar a crise do sistema Cantareira e livrar a Grande SP de um rodízio em 2015 será uma obra com estrutura provisória e vida útil limitada entre 5 e 10 anos.

A informação é da diretoria da Sabesp, que planeja gastar R$ 130 milhões na intervenção emergencial para remanejar água entre os sistemas Rio Grande e Alto Tietê.

Na prática, essas tubulações possibilitarão levar água de uma represa mais cheia para outra mais vazia -podendo, dessa forma, abastecer parte dos bairros hoje atendidos pelo Cantareira.

A obra não terá caráter permanente porque as tubulações de PEAD (polietileno de alta densidade) usadas na obra ficarão expostas ao sol e à chuva, sofrendo desgaste que restringe sua vida útil.

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A solução definitiva seria aterrar os tubos -que, de acordo com especialistas, ampliaria a duração das estruturas por décadas. Mas essa obra levaria mais tempo.

A Sabesp admite ainda a possibilidade de vandalismo nas tubulações provisórias que ficarão expostas. Descarta, porém, a opção definitiva sob a justificativa de que precisa entregar a obra na temporada seca em São Paulo.

Em janeiro, Alckmin prometeu que a interligação funcionaria em maio. O prazo já foi empurrado para setembro.

A obra que interliga os sistemas Rio Grande e Alto Tietê terá cerca de 7 km de adutoras de 1,2 m de diâmetro.

Segundo especialistas, é difícil prever quanto tempo levaria para construir as adutoras enterradas. Para efeito de comparação, a Transpetro demorou mais de um ano e meio para aterrar 39 km de dutos no mesmo trecho.

O comerciante Daniel Naves, 49, dono de um sítio em Ribeirão Pires (ABC paulista) por onde a obra passará, disse à Folha que, quando os engenheiros da Sabesp estiveram em sua propriedade, lhe informaram que os dutos ficariam lá por três anos.

Editoria de Arte/Folhapress
Obra da Sabesp para aliviar o sistema Cantareira
Obra da Sabesp para aliviar o sistema Cantareira

Especialistas costumam criticar a falta de planejamento do Estado que contribuiu com a atual crise hídrica.

Professor da UFRGS, Carlos Tucci considera que a obra emergencial é relevante no momento, mas diz que a interligação de mananciais tem que ser pensada a médio e longo prazos.

"Não se pode pensar em uma solução só para esta crise. A longo prazo, todas essas conexões entre reservatórios podem ser importantes."

A Sabesp, por enquanto, não tem nenhum plano de eventual obra futura para tornar a interligação definitiva.

Segundo Tucci, as interligações dos sistemas dariam maior flexibilidade na hora de escolher com qual reservatório abastecerá determinados bairros da Grande SP.

Isso poderia ainda reduzir os custos da operação da Sabesp, que impactam a tarifa cobrada dos clientes. "Quanto mais interligações tiver, é possível escolher entre captar a água do Rio Grande ou do sistema São Lourenço [reservatório prometido para 2017, que fica a 80 km da capital]".


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