Folha de S. Paulo


Sem avisar, governo do Acre volta a enviar haitianos a São Paulo

Sem avisar oficialmente a prefeitura paulistana, o governo do Acre retomou o envio de ônibus comimigrantes haitianos para SP após quatro meses de interrupção.

Nos próximos dias, cerca de mil haitianos devem desembarcar na capital paulista. O primeiro ônibus, com capacidade para 44 passageiros, saiu de Rio Branco na quinta-feira passada (14).

Serão 22 viagens, duas por dia, para transportar 968 haitianos no total, de acordo com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Acre.

A medida foi criticada pela gestão petista de Fernando Haddad, que disse não ter havido preparo para receber os haitianos e criticou os governos federal e do Acre, comandados também pelo PT.

A previsão é que o primeiro ônibus chegaria nesta segunda (18), depois de uma viagem de cerca de 80 horas.

O custo do transporte, de R$ 1 milhão, será financiado pelo Ministério da Justiça do governo Dilma Rousseff (PT).

Segundo o secretário acriano Nilson Mourão, até 20 imigrantes chegam ao Acre todos os dias, e o abrigo do governo estadual na capital do Estado tem hoje 500 pessoas. "Chegamos ao limite. A situação é delicada, passou do nosso nível de capacidade."

Questionado sobre se a Prefeitura de São Paulo ou o governo do Estado teriam sido informados da medida, o secretário disse que não vê necessidade disso. "Nosso papel é fazer os imigrantes chegarem ao destino final. Isso [ir para São Paulo] é uma opção deles. Eles não vêm para ficar no Acre, mas para [ir a] outros centros", disse. "Muitos também não ficarão em São Paulo, seguirão para outras cidades onde estão seus parentes", completou.

DESCONFORTO

A Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da gestão Haddad disse ter sido "surpreendida" e que essa medida gera "grande desconforto". "Sem notificação e prazo para planejamento e mobilização, nem por parte do governo do Acre nem por parte do governo federal, nossa cidade terá dificuldades para receber em sua rede assistencial essa quantidade de pessoas."

Na nota, a pasta disse que esteve com representantes do Ministério da Justiça levando uma proposta para organizar esse fluxo migratório. "Se os entes federados agissem de forma articulada e colaborativa os resultados seriam muito mais eficazes", afirmou.

Em março do ano passado, houve troca de acusações entre membros dos governos do Acre e de São Paulo por causa do envio dos imigrantes. A prefeitura paulistana reclamou de não ter sido avisada sobre os ônibus. Já o governador do Acre, Tião Viana (PT), disse que a "elite paulistana" é "higienista".

Entre março e dezembro de 2014, ao menos 70 ônibus saíram de Rio Branco para São Paulo, transportando mais de 3.000 haitianos. O traslado foi interrompido no final do ano por falta de recursos.

Com a interrupção das viagens, o abrigo de Rio Branco enfrentou superlotação em 2015. Mais de mil pessoas se aglomeravam num espaço com capacidade para 200. No começo deste mês, o Acre afirmou que repassaria o gerenciamento do abrigo para o governo federal, mas continua à frente do local até agora.

O Ministério da Justiça informou que firmou convênios para o transporte, a fim de fazer a "desconcentração dos destinos conforme padrões e demanda de emprego".


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