Folha de S. Paulo


Planos de saúde oferecem descontos para quem perde peso

Planos de saúde têm oferecido descontos na mensalidade e prêmios —como notebooks e viagens internacionais mais baratas— para incentivar seus usuários a perder peso, fazer exercícios e adotar hábitos saudáveis.

Há atualmente no Brasil cerca de 1.300 programas de promoção à saúde e de prevenção a doenças, que atingem 1,6 milhão de beneficiários —pouco mais de 3% do total de usuários dos planos.

Desses, 300 oferecem premiações ou bônus como redução de 10% na mensalidade, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar.

Para ganhar os benefícios, os clientes precisam ir a consultas, participar de palestras e, em alguns casos, se submeter a avaliações periódicas.

Usuários com obesidade, em % Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

Além de reduzir custos, os planos que adotam programas preventivos ganham pontos e podem melhorar a nota no ranking de avaliação da ANS —que é público.

A prevenção da obesidade e das doenças associadas a ela, como diabetes e hipertensão, tem sido um dos principais focos dos programas.

Editoria de arte/Folhapress

Dados da Vigitel, pesquisa do Ministério da Saúde que monitora os fatores de risco para a saúde, mostram que o sobrepeso atinge até 67% dos usuários de planos —moradores em capitais do país. A obesidade chega a afetar 42%.

O mesmo estudo dá pistas sobre as causas dessa epidemia: até 53% das usuárias tomam refrigerante cinco ou mais vezes por semana. Entre os homens, 48%.

CUSTOS

Estudos mostram que, a cada 1% de redução no peso, na pressão arterial e nos níveis de glicose, há uma economia entre US$ 83 a US$ 103 em despesas médicas por pessoa.

"Todos ganham com programas preventivos: a população [que fica menos doente] e os sistemas de saúde, que reduzem custos", diz Katia Audi, gerente de monitoramento assistencial da ANS.

A agência incentiva os programas e, em parceria com a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), está avaliando a eficácia deles.

Usuários com sobrepeso, em % - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

Katia aprova a premiação, mas diz que não pode ser o único caminho. "Tem que trabalhar a consciência."

Uma revisão de 34 estudos internacionais concluiu que, embora os programas de incentivo mudem comportamentos de saúde a curto prazo, os efeitos positivos tendem a desaparecer quando os benefícios são cortados.

Por isso, os pesquisadores aconselham que o bônus seja atrelado a medidas mais concretas, como a realização de exames preventivos —em vez de uma mudança de comportamento a longo prazo.

A Intermédica prioriza os incentivos em um programa para gestantes. Dá notebooks, bolsas e ingressos de cinema às mães que fazem pré-natal corretamente, amamentam o bebê no peito por mais tempo e mantêm em dia a carteira de vacinação do filho.

Usuários que consomem refrigerante 5 ou mais vezes por semana, em % - Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

A dona de casa Andrênia Cintia da Silva Barbosa, 40, ganhou no início do ano um notebook por ter seguido as recomendações. Nas três gestações anteriores, ganhou até 20 kg, teve hipertensão e perdeu uma filha aos sete meses de gestação. Na última gravidez, teve também diabetes.

"O melhor foi fazer a coisa certa para não prejudicar meu filho. Fiz dieta e só ganhei oito quilos", diz.

Na opinião do clínico-geral Walter Moschella, especialista em medicina preventiva, a gestação é um período em que as mulheres estão sensibilizadas e tendem a mudar hábitos com mais facilidade.

No entanto, mudanças de comportamento de obesos são mais difíceis de serem mantidas, segundo ele. "Não é dando um notebook que vamos atingir as causas emocionais, familiares, metabólicas e físicas da obesidade."


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