Folha de S. Paulo


Vacina não acabará com a dengue, diz Ministério da Saúde

Assim que estiver pronta, a vacina contra a dengue não estará disponível para todos os brasileiros nem será capaz de eliminar a doença. Tampouco reduzirá a necessidade de combate ao mosquito.

É o que afirma Jarbas Barbosa, secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, pasta que analisa novos remédios e vacinas no SUS. Barbosa declara ainda que "preocupa" a eficácia da vacina da multinacional francesa Sanofi Pasteur, cujos testes já foram concluídos.

Segundo ele, o governo federal pretende dar apoio para acelerar os testes de outra vacina contra a doença, que vem sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan.

Jorge Araújo/Folhapress
Jarbas Barbosa, secretário da Saúde para novas vacinas e remédios
Jarbas Barbosa, secretário da Saúde para novas vacinas e remédios

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A seguir, pontos de sua entrevista à Folha sobre o tema.

EFICÁCIA
Temos várias iniciativas para desenvolver vacinas contra a dengue. A da Sanofi é uma vacina que ainda temos que avaliar. A eficácia dela é limitada, em volta de 60%, e exige três doses, com um ano de diferença entre a primeira e a terceira. Ela não serve para a contenção de um surto. Vacinas com grau de proteção mais baixo não são capazes de eliminar a doença.

VACINA IDEAL
Uma eficácia de 60% é baixa. A vacina ideal seria de uma dose e alta eficácia. Como não existe, a estratégia do ministério é acelerar e apoiar a vacina do Butantan, para que [o instituto] consiga terminar o estudo o mais rápido possível. E vamos analisar após o registro a da Sanofi. Enquanto a do Butantan não estiver pronta, poderíamos utilizar outra vacina, se cumprir os requisitos.

CASOS GRAVES
Há estudos que mostram que ela [vacina da Sanofi] reduziu casos graves e internações. Isso vai ter que se levar em conta, mas, quando a rede de atenção básica está preparada, evitamos casos graves.

CONTROLE
Podemos controlar o vetor com os instrumentos que temos atualmente, não precisamos esperar uma vacina. Se tivermos uma vacina de dengue, o que faríamos? A resposta do senso comum é vacinar toda a população. Mas seria impossível. Primeiro porque não teríamos vacina suficiente. A produção é limitada, e leva muito tempo para ser feita. Se não tem vacina, quem começaríamos a vacinar? Crianças, idosos? Queremos estabelecer os grupos prioritários quando tivermos vacina para a população.

REGISTRO
Se a Anvisa dá um registro, não significa que [o governo] pode usar ou deve usar. No caso da vacina de dengue, temos dois comitês técnicos. Se forem a favor, isso vem para a Conitec, comissão que analisa segurança, eficácia e custo-efetividade. Nem tudo registrado pode ser incorporado rapidamente ao sistema.

CURTO PRAZO
O que temos de curto prazo é algo que é muito eficaz: fazer com que cada família reserve 15 minutos para eliminar criadouros em casa.

SOLUÇÃO MÁGICA
Quando falamos em vacina [contra a dengue], pensamos em um produto mágico que elimina doenças. Mas a única doença que erradicamos do mundo foi a varíola. Nem a pólio foi eliminada globalmente. Mesmo com a vacina, ações de controle ao vetor ainda serão necessárias.


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