Folha de S. Paulo


Beira-Mar é condenado a 120 anos por morte de 4 rivais em presídio do Rio

O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, foi condenado a 120 anos de prisão pelo homicídio de quatro rivais no presídio de Bangu 1, em 11 de setembro de 2002.

Beira-Mar recebeu a pena máxima, 30 anos, para cada morte. A decisão do júri foi por unanimidade.

Após 10 horas e 15 minutos, o julgamento encerrou na madrugada desta quinta-feira (14) no Tribunal de Justiça do Rio. A defesa de Beira-Mar disse que irá recorrer.

"O Luiz Fernando não participou deste fato que o Ministério Público não conseguiu comprovar qual é", afirmou o advogado Mauricio Neville declarando que a denúncia não detalha qual a participação do traficante no crime.

Para o Ministério Público, Beira-Mar era "líder da facção Comando Vermelho". "Não precisa de provas. Os fatos são notórios. O Ministério Público entende que Beira-Mar exercia comando sobre aqueles criminosos", disse o promotor Braulio Gregório.

TRAFICANTE DE DROGAS

Mais cedo, durante o julgamento nesta quarta (13), Beira-Mar assumiu pela primeira vez ter sido traficante de drogas. A afirmação, feita durante seu depoimento de defesa, destoou das qualificações que declarava anteriormente. Beira-Mar costumava se apresentar como pecuarista ou comerciante.

"Era matuto [responsável por abastecer as facções com armas e drogas]. Era pecuarista graças às vendas de entorpecentes", afirmou.

O traficante já tem 149,5 anos de condenações por tráfico de drogas e homicídio no Rio de Janeiro. Considerando as condenações em outros Estados, a soma das penas às quais ele já havia sido condenado chegam a quase 200 anos.

Em uma delas, também definida por júri popular em 2013, ele foi condenado a 80 anos sob acusação de planejar e ordenar a morte de dois homens na favela Beira-Mar, em Duque de Caxias, município da região metropolitana do Rio, no mesmo ano de 2002. Nesta época, o traficante já estava preso.

O codinome Beira-Mar tem origem nesta favela da Baixada Fluminense, onde ele despontou como chefe do tráfico no início da década de 1990. Nos anos seguintes, passou a ser reconhecido como um dos principais articuladores da facção Comando Vermelho.

Preso desde abril de 2001, quando foi capturado na selva colombiana por tropas do exército local, Beira-Mar ganhou notoriedade por organizar sua própria rede de distribuição de armas e drogas a partir de conexões com traficantes da América Latina.

Atualmente, ele cumpre pena na penitenciária federal de segurança máxima de Porto Velho, em Rondônia.

CRIME EM BANGU 1

Beira-Mar e outros 22 detentos da facção Comando Vermelho destruíram parte do presídio de Bangu 1 e iniciaram uma caça aos rivais da facção ADA (Amigos dos Amigos). Às 8h30 do dia 11 de setembro de 2002, eles assumiram o controle da penitenciária, fizeram quatro reféns e invadiram a ala D, onde estavam os presos da ADA.

Considerado de segurança máxima e com capacidade para 48 detentos, Bangu 1 concentrava os criminosos mais perigosos do Rio até então. Na ala D estava o principal alvo do Comando Vermelho: Ernaldo Pinto de Medeiros, conhecido como Uê, fundador da ADA e um dos principais traficantes do Rio na ocasião.

Uê foi torturado e morto antes de ter o corpo queimado. Tiveram o mesmo destino naquele dia Carlos Alberto da Costa (Robertinho do Adeus), Wanderlei Soares (Orelha) e Elpídio Rodrigues Sabino (Pidi).

A rebelião durou cerca de 23 horas e terminou com Beira-Mar sendo transferido para um quartel da PM. Posteriormente, ele iniciou por Catanduvas (PR) sua estadia em presídios federais de segurança máxima.

Todos aqueles que tiveram participação na rebelião de Bangu 1 respondem ao processo, mas o caso foi desmembrado.


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