Folha de S. Paulo


Com saúde em crise, Ceará atende pacientes no chão

Pacientes atendidos nos corredores e no chão, falta de materiais básicos e um surto de sarampo. O secretário de Saúde do Ceará pediu demissão há mais de uma semana. O governador Camilo Santana (PT), porém, não sabe até agora quem irá substituí-lo.

Os pacientes atendidos em corredores dos hospitais públicos somaram 429 nesta segunda (11), maior número desde 21 de abril, quando começou um levantamento do sindicato dos médicos em cinco hospitais estaduais e nove municipais em Fortaleza.

No domingo (10), pacientes foram atendidos diretamente no chão no hospital Instituto Dr. José Frota, referência em traumas e parte da rede municipal -sob gestão do prefeito Roberto Claudio (Pros).

O presidente da Associação Médica Cearense, Carmelo Leão, diz que a falta de estrutura de postos de saúde, alguns fechados por falta de material, provoca sobrecarga no sistema e superlotação.

No Hospital Geral de Fortaleza, faltam itens básicos, como luvas, seringas e clorexidina (para higienizar as mãos), segundo a presidente do sindicato, Mayra Pinheiro, que é filiada ao PSDB.

Segundo Mayra, a falta de estrutura agravou o surto de sarampo que o Estado enfrenta. Desde 2013, foram confirmados 803 casos da doença, sendo 107 apenas neste ano, segundo boletim da Secretaria Estadual de Saúde. Desde 2013, o Brasil teve 1.057 casos confirmados, sendo 803 no Ceará e 224 em Pernambuco. A transmissão da doença havia sido interrompida no país nos anos 2000.

Cirurgias já foram canceladas porque não há fios para suturar cortes. Nas UTIs neonatais, faltam tubos para entubar os bebês. "Estamos trabalhando numa guerra. Profissionais levam, às vezes, medicamentos de casa."

O sindicato médico também critica decisão do governo estadual que, no início do mês, reduziu de 140 para 90 o número de medicamentos obrigatórios nas farmácias hospitalares.

RENÚNCIA

Após uma semana de indefinição, o governo do Ceará admitiu nesta segunda-feira (11) que Carlile entregou sua carta de renúncia no dia 4 de maio. A reportagem não conseguiu contato com o ex-secretário.

A demora do Palácio da Abolição em oficializar a saída do médico gerou constrangimentos durante visita do ministro da Saúde, Arthur Chioro, ao Ceará na semana passada.

Em evento na terça-feira (5) em Fortaleza, Carlile já havia entregue carta de renúncia, mas o governo não havia confirmado sua saída. Ele foi convidado de última hora para formar a mesa, mas não discursou.

Whatsapp/Tribuna do Ceará
Pacientes são atendidos nos corredores e no chão em hospitais de Fortaleza
Pacientes são atendidos nos corredores e no chão em hospitais de Fortaleza

O Ministério da Saúde diz que, nos últimos quatro anos, repassou quase R$ 1,6 bilhão ao governo do Ceará, além de R$ 179,4 milhões em 2015, para atendimentos, exames, internações e custeio.

A assessoria do Instituto Dr. José Frota diz que irá investigar a razão de pacientes serem atendidos no chão, mas afirma que eles "ficaram poucos minutos nessa condição".

O governo do Ceará afirmou, por nota, que a Secretaria da Saúde "segue focada em reforçar as medidas de melhoria nos serviços de saúde", mas não comentou o motivo da saída do secretário de Saúde, Carlile Lavor.

Sobre superlotação nos hospitais, afirma que os atendimentos aumentaram devido às chuvas. "Historicamente, no período de chuvas ocorrem mais viroses, o que contribui para crescimento da procura", diz a nota.

O governo afirma ainda que, nos últimos sete anos, foram criados 1.100 leitos para o SUS no Ceará, mas não detalhou por que há pacientes internados nos corredores. Também não comentou a falta de medicamentos e materiais básicos nos hospitais.

Sobre o surto de sarampo, o governo afirma que a campanha de vacinação já atingiu 85% da população-alvo.


Endereço da página: