Folha de S. Paulo


Destruição e falta de luz fazem vítimas temerem saques em Xanxerê (SC)

O clima de insegurança na cidade catarinense de Xanxerê, que teve bairros inteiros devastados por um tornado na segunda-feira (20), levou a Polícia Militar e o Exército a armarem uma patrulha especial para evitar saques.

Moradores que tiveram as casas parcialmente destruídas resistem a deixar os imóveis com medo de furtos. O temor é agravado pela falta de luz que persiste desde o dia da tragédia, na qual duas pessoas morreram.

Ao anoitecer, a polícia monta bloqueios na entrada dos bairros e só permite a passagem de moradores e prestadores de serviço. Em um condomínio, vigias foram contratados para monitorar o patrimônio. A dona de um mercado diz que precisou contratar um segurança.

Na noite desta quinta-feira (23), um comboio de nove veículos da PM e do Exército circulou nos bairros atingidos mandando que as pessoas ficassem em suas casas.

A determinação era de restringir a circulação de pessoas, para evitar saques. Até esta quinta, só duas pessoas foram detidas em flagrante, segundo a PM, furtando fios derrubados pelo vento.

Mas a Folha testemunhou pessoas furtando objetos de um ginásio de esportes destruído pelo tornado. O grupo procurava lâmpadas, equipamentos esportivos e móveis em meio aos destroços.

A aposentada Marli Brandalise, 51, é uma das que resistem em abandonar sua moradia. Ela decidiu se abrigar no porão de casa, já que o pavimento principal ficou comprometido. "Não tem como sair. Roubam mesmo. Ouvi falar que pegam até panelas das casas destruídas."

O agricultor Francisco Orlandi, 73, que está morando com a filha enquanto o telhado de sua casa é consertado, providenciou a retirada de todos os objetos de valor do local. "Só sobrou móvel que ladrão não vai querer levar."

Para Nair Altissimo, que coordena um abrigo, a baixa procura por alojamento pode ser reflexo do medo de saques.

Segundo a Defesa Civil de Santa Catarina, 2.300 pessoas tiveram de deixar suas moradias e quase 4.000 casas foram danificadas. Os prejuízos somam R$ 45,4 milhões em bens privados e R$ 12,6 milhões no setor público. Entre cerca de cem feridos, três sofreram amputações.

TRAILER

Mesmo depois de três dias de trabalho de remoção de escombros, o cenário ainda era de destruição nesta quinta (23) em quatro bairros de Xanxerê –com dezenas de postes derrubados no chão e placas de alumínio penduradas no alto de fios de luz.

Carolina Cichczwski, 59, providenciou lonas para cobrir o telhado de sua casa e estava abrigada na residência da filha, na mesma rua.

No dia do tornado, ela salvou quatro crianças, incluindo dois netos. As crianças se divertiam dentro de um trailer da família, que, segundo Carolina, foi revirado três vezes pela força dos ventos.

"Eu estava no quintal. Quando olhei, estava vindo. Parecia fumaça. Vi que era um 'furacão', fazia um barulhão. Agarrei os quatro, tirei e levei para dentro. Ficamos todos dentro do banheiro. Foi questão de segundos."

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Veja como se forma um tornado:

Choque
- uma frente fria encontra uma massa de ar quente. O choque forma nuvens gigantes (cúmulos-nimbos).
- a força do tornado será determinada pela diferença de temperatura das massas de ar; o ar quente forma uma corrente em direção ao solo.

Ventos
- fortes ventos podem fazer com que a corrente de ar quente desça em movimento circular, gerando uma massa de ar em espiral. Esse movimento atrai mais ar quente para as nuvens, fazendo o ar girar ainda mais rápido, podendo causar um tornado.

Editoria de Arte/Folhapress

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