Folha de S. Paulo


Grupo faz 'invasão fantasma' em área de manancial de SP

Em meio à vasta vegetação, dois homens vigiam a área que invadiram às margens da represa Billings, no extremo sul da cidade de São Paulo.

Mas não há barracos nem sem-teto dormindo por lá –apenas faixas que demarcam lotes, numa espécie de "invasão fantasma" do terreno particular próximo ao parque dos Búfalos, no Jardim Apurá, onde a gestão Fernando Haddad (PT) planeja um condomínio pelo programa federal Minha Casa, Minha Vida.

O plano de Haddad no parque dos Búfalos provocou protestos de ambientalistas, que querem um parque, e não moradia, na área de manancial. O projeto acabou parando por determinação judicial.

Agora eles temem que a nova ocupação, mesmo sem barracos, incentive outros sem-teto numa região relevante para preservação em tempos de crise hídrica.

"É uma invasão inusitada, mas parece orquestrada para garantir que a área vire habitação", diz Mario Mantovani, do SOS Mata Atlântica, para quem a defesa dos mananciais, prevista em lei desde 1997, foi abandonada.

O parque dos Búfalos é uma das poucas partes preservadas na área de proteção, cercada de casas, construídas em um processo desordenado ao longo dos anos.

A "invasão fantasma" do terreno vizinho foi precedida de uma ocupação por cerca de cem pessoas com barracas de lona na última semana. Mas elas logo saíram de lá.

Adriano Vizoni/Folhapress
José Raimundo e Jamilton, que vigiam terreno invadido ao lado do parque dos Búfalos
José Raimundo e Jamilton de Oliveira, que vigiam terreno invadido ao lado do parque dos Búfalos, em SP

À frente da demarcação do território está José Raimundo Santos, 47, que já mora no bairro, mas pagando aluguel.

"Invadimos porque já sabíamos que outro grupo iria invadir. Como a área é particular, cheia de dívidas, a gente entrou", afirmou ele, para quem a vigilância feita no local garante a futura posse.

Segundo a Polícia Militar, a invasão provocou pequenos danos ambientais –queimada de mata e algumas árvores derrubadas. Uma multa deve ser aplicada ao dono do terreno (cujo nome não foi revelado por prefeitura e Estado), que deveria preservá-lo.

O pedreiro Jamilton Ribeiro de Oliveira, 36 , faz as vezes de vigia do espaço ao lado de Santos. "Para alugar uma casa de dois cômodos a gente gasta R$ 600", reclama.

Um decreto estadual de 1990 previa a desapropriação da área para a construção de uma escola. O projeto, porém, nunca foi adiante. O terreno alvo da "invasão fantasma", segundo a prefeitura, não faz parte da área que deve receber um condomínio popular.

"Os moradores não vão perder o parque, e sim ganhar um novo com 550 mil m², ciclovia, equipamentos de lazer, além de creche, escolas e sede da GCM", diz a gestão.


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