Folha de S. Paulo


Casal ganha a vida como os caça-fantasmas brasileiros

Certa vez o estilista e apresentador de televisão Clodovil foi enfático: "Você vai dar uma palestra, esse sapato não dá." Ela então tratou de comprar o modelo indicado por ele –muito mais caro. Em outra ocasião, deu-lhe dica preciosa sobre a decoração da casa.

Nada demais não estivesse ele morto. Amigos em vida, Rosa Maria Jaques, 66, e o ex-deputado federal estenderam a relação fraternal também para o "lado de lá", garante ela, que se define como vidente, sensitiva e telepata.

Rosa é do tipo que não se intimida com a exposição na TV, nem em programas populares, ou no seu canal no YouTube (Visão Paranormal).

Pode-se dizer que, ali, ela e o marido, João Tocchetto, 54, encarnam os caça-fantasmas brasileiros. A similaridade com o filme, porém, para por aí. Nenhum espectro é caçado e nenhum ectoplasma "sai ferido" após a intervenção.

O que eles fazem, diz ela, é orientar a alma que por ventura esteja "assombrando" uma casa a encontrar seu caminho.

Rubens Cavallari/Folhapress
Rosa Maria Jaques e seu marido, João Tocchetto, que dizem caçar fenômenos paranormais
Rosa Maria Jaques e seu marido, João Tocchetto, que dizem caçar fenômenos paranormais

Em um dos seus trabalhos, o casal tratou de dar um rumo aos fantasmas que supostamente assombravam o Castelinho da rua Apa, no centro.

Em 1937, uma discussão entre os irmãos Álvaro César dos Reis, 45, e Armando César, 42, terminou em tragédia. O mais velho teria matado o caçula, a própria mãe, e se matado.

Para captar a presença do além, os dois andam munidos de objetos como um termômetro –eles dizem que a presença de um fantasma acarreta a queda da temperatura–, uma câmera com visão noturna e um "ghost meter" –que mede o campo eletromagnético, vendido pela internet–, entre outros itens.

No Castelinho da Apa, o casal garante ter feito uma gravação da voz do ectoplasma. Segundo a descrição do vídeo no Youtube, uma voz foi captada dizendo: "senta, senta Rosa, senta Rosa, senta."

"Temos também ocorrências em imagens", diz João.

Eles garantem não cobrar nada de pessoas físicas e que se sustentam com palestras e consultorias em empresas, ao preço de até R$ 300 a hora. "Por contrato, não revelamos os nomes", diz João.

Se as histórias do além não metem medo nos dois, casos bem menos metafísicos parecem ser mais complicados.

Em 2010, Rosa estaria em contato com o ex-ministro do TSE José Guilherme Villela e da advogada Maria Carvalho Villela, assassinados, no ano anterior, no Distrito Federal.

Acabou se tornando suspeita de atrapalhar a investigação, por indicar uma prova considerada "plantada".

O casal não fala sobre o assunto. Rosa, no entanto, garante: "Os vivos podem causar muito mais problemas que os mortos".


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