Folha de S. Paulo


Mãe de vítima em chacina diz que menino se salvou pois balas acabaram

"Não imaginava na minha vida matarem alguém lá dentro." "Imagina o medo que ele sentiu." "Ele não era bandido." "Agora não tem jeito mais."

No início da tarde deste domingo (19), no IML (Instituto Médico Legal), amigos e familiares ainda tentavam digerir a morte de oito pessoas na sede da Pavilhão Nove, torcida do Corinthians.

Olhos vermelhos, cabeças baixas, celulares conectados a redes sociais com posts e mais posts escritos "LUTO". Muitos vestindo camisetas e bonés da Pavilhão Nove. "Mydras, volta. Por favor, não me deixa não", chorava a mulher do músico na porta do IML.

Abraços, choros e às vezes sorrisos depois de uma lembrança boa das oito vítimas mortas neste sábado.

"Eles não eram amigos, eram família." Membros da torcida limitaram-se a dizer isso sobre as vítimas. Uma mulher da torcida se aproximou de outra, que estava no IML por outro motivo e tinha uma tatuagem associada ao Palmeiras, e falou: "Você é palmeirense, né? Mas tá de boa, viu?".

Editoria de Arte/Folhapress
vítimas da chacina na sede da Pavilhão Nove
vítimas da chacina na sede da Pavilhão Nove

Jonathan Rodrigues do Nascimento, 21, era "louco" pelo time, conta a sua avó, Joselita. A família até tentava convencê-lo a se envolver menos, mas percebeu que a torcida dava sentido para sua vida. Ele conheceu quase todo o Brasil ao acompanhar o Corinthians, lembra a namorada, Ana Paula dos Santos, 27.

Chorando, ela lamentava o "enterro de seu sonho". Eles viviam juntos havia três meses, e planejavam se casar no ano que vem.

A mãe do Jhonatan Fernando Massa, Andrea Massa, disse que eles estavam pintando as bandeiras da torcida dentro do pavilhão. Segundo ela, as vítimas foram espancadas antes de levarem os tiros. "Um dos meninos não foi morto porque as balas acabaram. Os homens disseram que ele ficaria vivo para poder contar a história", afirmou.

Membros da Pavilhão 9 a interromperam pedindo para ela não dar informações. Ela despediu-se de jornalistas pedindo justiça. Jhonatan era casado e tinha uma filha de quase um ano.

CHACINA

Oito homens morreram em uma chacina na sede da torcida organizada Pavilhão 9, que fica embaixo da ponte dos Remédios, próximo à marginal Tietê, em São Paulo, por volta das 23h deste sábado (18).

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Segundo relato de testemunhas à polícia, três homens invadiram a quadra da torcida, que fica embaixo da ponte dos Remédios, próximo à marginal Tietê, em São Paulo, por volta das 23h. Os assassinos mandaram as pessoas deitarem no chão e atiraram contra a cabeça de sete delas, que morreram no local, segundo informações da Polícia Militar.

A oitava vítima, Mydras Schmidt, também foi baleada dentro da quadra da torcida, mas conseguiu fugir para a rua. Ela caiu em um posto de combustível e foi levada ao Hospital das Clínicas, onde morreu logo em seguida. Segundo a Polícia Civil, foram encontradas cápsulas de pistola 9 mm próximo aos corpos das vítimas.

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Segundo o delegado, câmeras de segurança do posto de gasolina gravaram o momento em que a vítima caía no posto. "É uma das maiores chacinas dos últimos tempos, principalmente em um mesmo local", disse Vaz.

Segundo a Polícia Civil, foram encontradas cápsulas de pistola 9 mm próximo aos corpos das vítimas. Por volta das 8h, os corpos foram enviados para o IML (Instituto Médico Legal) para a realização da autopsia.

A torcida foi fundada em setembro de 1990, numa homenagem de amigos corintianos ao time de futebol da casa de detenção do Carandiru. A entidade tem como símbolo a figura de um dos irmãos Metralha, personagens da Disney, e atua também como bloco carnavalesco.

As mortes estão sob investigação do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa). O Corinthians enfrenta o Palmeiras neste domingo (19), às 16h, pela semifinal do Campeonato Paulista.

VÍTIMAS

Uma das vítimas é Fábio Neves Domingos, 34, conhecido como "Du Memo". Ele foi um dos torcedores corintianos detidos pela morte do jovem torcedor boliviano Kevin Douglas Beltrán Espada, 14, durante o jogo entre San José x Corinthians, em Oruro (a 230 km de La Paz), pela fase de grupos da Taça Libertadores da América, em 2013.

As demais vítimas são: Ricardo Júnior Leonel do Prado, 34, André Luiz Santos de Oliveira, 29, Matheus Fonseca de Oliveira, 19, Jhonatan Fernando Garzillo Massa, 21, Marcos Antônio Corassa Júnior, 19, Mydras Schmidt Rizzo, 38, e Jonathan Rodrigues do Nascimento, conhecido com "Edilsinho", 21.

EM LUTO

Em sua conta no Twitter, o ex-presidente do Corinthians e agora superintendente de futebol Andrés Sanchez prestou condolências às famílias das vítimas da chacina. "Transmito meu luto e pêsames solidários para com as famílias das oito vitimas da chacina ocorrida na sede da Torcida Pavilhão Nove".

O Twitter oficial do clube publicou a hashtag #Luto com uma imagem que mostra um fundo preto e a palavra luto em branco. Ainda no Twitter, a hashtag #LutoP9 é uma das mais compartilhadas.

A torcida foi fundada em setembro de 1990, numa homenagem de amigos corintianos ao time de futebol da casa de detenção do Carandiru. A entidade tem como símbolo a figura de um dos irmãos Metralha, personagens da Disney, e atua também como bloco carnavalesco.

Reprodução

MORTES EM SÉRIE

Chacinas e mortes em série têm sido comuns na cidade. Na noite da última quarta-feira (15), em meia hora, seis homens foram mortos e um ficou ferido em três ataques ocorridos na região de Parelheiros, periferia da zona sul de São Paulo. Um policial militar foi morto pela manhã numa área próxima.

Embora as três ocorrências tenham sido próximas, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que, como as investigações estão no início, "não é possível agora concluir se há relação entre elas".

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, 3 dos 7 baleados tinham passagem pela polícia –um por roubo e porte de arma, outro por lesão corporal e um terceiro por ato infracional de roubo e lesão corporal, quando era menor de idade.

Recentemente, casos semelhantes de mortes em série também foram registrados no Campo Limpo (zona sul) e no Jaçanã (zona norte).


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