Folha de S. Paulo


Planalto e OAB cobram polícia de SP por travesti espancada

O governo federal e a Prefeitura de SP cobraram explicações da polícia de São Paulo, que manteve uma travesti presa em uma cela com vários homens e não evitou que ela fosse espancada. A corporação também foi alvo de críticas da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Uma resolução da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência estabelece parâmetros de acolhimento de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros em prisões e, nela, recomenda que aos travestis "sejam oferecidos espaços de vivência específicos". O Ministério Público de São Paulo também abriu investigação sobre o caso.

Segundo a polícia, porém, a travesti não pediu para ir para uma cela separada.

Reprodução/Facebook - Marlene Bergamo/Folhapress
A travesti Verônica Bolina. antes e depois de ficar desfigurada após ser presa
A travesti Verônica Bolina. antes e depois de ficar desfigurada após ser presa

Presa há uma semana sob suspeita de tentar matar uma vizinha de 73 anos, Veronica Bolina (nome social), 25, apareceu desfigurada e com os seios à mostra em fotos que circularam em sites policiais desde segunda-feira (13).

As imagens foram feitas na delegacia do Bom Retiro, no centro, onde fica a carceragem em que ela estava –nesta quinta (16) ela foi transferida para uma detenção.

O caso foi revelado pelo coletivo Jornalistas Livres.

Segundo o delegado Luis Roberto Hellmeister, Veronica apanhou dos outros presos, com quem dividia cela, após se masturbar no local. Ela ainda mordeu e arrancou a orelha do carcereiro que entrou sozinho na cela para ajudá-la.

Ainda segundo o delegado, ao se defender, o carcereiro causou parte dos ferimentos no rosto de Veronica. O restante foi causado tanto na briga em que se envolveu ao ser presa como, em seguida, pelos colegas de cela.

Reprodução/Facebook
Fotos da travesti Verônica Bolina espancada e nua; imagens foram postadas em páginas do Facebook
Fotos da travesti Verônica Bolina espancada e nua; imagens foram postadas em páginas do Facebook

Em depoimento ao delegado, acompanhado por militantes LGBT e pela Folha, Veronica confirmou a versão policial. "Eu estava possuída pelo demônio", afirmou.

Segundo Martim Sampaio, diretor da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, independentemente de quem a agrediu e do crime que ela cometeu, o Estado tinha a obrigação de preservar a integridade física dela e também do carcereiro.

"O preso perdeu a liberdade, mas não o direito de ter sua incolumidade física garantida. O que fizeram é um horror. Os próprios carcereiros não estavam preparados para lidar com essa violência. O Estado é responsável tanto pelo decepamento da orelha desse carcereiro como pela surra que [Veronica] levou."

INVESTIGAÇÃO

A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência afirmou que acompanha o caso e que cobrou explicações da polícia paulista, da Defensoria Pública do Estado e do Centro de Cidadania LGBT.

Tal centro, ligado à prefeitura, afirmou que Veronica disse ter apanhado de policiais em três momentos: ao ser presa, ao brigar com o carcereiro e ao ser socorrida ao hospital.

A Secretaria da Segurança Pública informou que a Corregedoria da Polícia Civil investiga o caso e o vazamento das fotos de Veronica desfigurada, algemada e seminua no chão da delegacia.


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