Folha de S. Paulo


Quem só lê best seller não pode ser bom escritor, diz Hatoum a estudantes

"Ninguém pode se tornar um escritor sem duas coisas: sem experiência de vida e de leitura. Quem lê só best seller e 'Cinquenta Tons de Cinza' não pode ser bom escritor".

A lição é do escritor Milton Hatoum a uma plateia de estudantes municipais em um centro cultural na Vila Nova Cachoeirinha (zona norte de SP), nesta quinta (16).

No evento do Circuito São Paulo de Cultura, promovido pela prefeitura, o escritor encampou a difícil tarefa de tentar fazer adolescentes entenderem a importância da paciência na arte e na vida.

"O escritor espera o tempo passar para escrever sobre o passado. O romance é a arte da paciência. Você não pode escrever um romance em poucas semanas, poucos meses", disse ele, que reescreveu seu romance mais conhecido, "Dois Irmãos", 16 vezes.

Prosador tardio, lembrou ter publicado primeiro romance aos 36 anos, após tentativas de ser poeta ("É muito difícil escrever poesia) e arquiteto ("Fiz poucos projetos, todos desastrados").

Hatoum contou também a experiência como aluno de outra escola pública, melhor e que reunia todas as classes sociais. "Esse projeto foi interrompido na época da ditadura", diz.

Em bate-papo informal, respondeu perguntas sobre bullying, vaidade, inspiração e aposentadoria. "Não sei até quando vou ter fôlego para escrever. Estou escrevendo um romance (em dois volumes) há cinco anos", disse. "Talvez depois desses dois eu não escreva mais nada."

Na abertura, o prefeito Fernando Haddad (PT) aconselhou os jovens a lembrarem da conversa no futuro, quando tiverem contato com a obra do autor. Foi embora logo em seguida, deixando na plateia alguns secretários municipais, como o ex-senador Eduardo Suplicy (Direitos Humanos) e Nabil Bonduki (Cultura).


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