Folha de S. Paulo


Em meio à crise, provedor da Santa Casa de São Paulo renuncia ao cargo

O provedor da Santa Casa de São Paulo, Kalil Rocha Abdalla, renunciou ao cargo na tarde desta quinta-feira (16). Ele estava licenciado desde janeiro, devido à grave crise financeira pela qual passa o maior complexo hospitalar filantrópico da América Latina.

A licença venceria em abril. Segundo a Folha apurou, em sua defesa, Abdalla afirmaria que foi legitimamente eleito e esperava retornar ao posto, o que não foi possível devido à resistência interna de outros membros da direção da instituição.

Com a renúncia, deverá ser feita nova eleição em até 60 dias para a escolha de um novo provedor.

Em nota, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo informou que, de acordo com seu Compromisso (estatuto), o vice-provedor, Ruy Altenfelder, irmão que ocupava a função interinamente, assumirá a provedoria até a definição do novo titular.

"A Santa Casa de São Paulo reafirma seu compromisso com a população e garante que o atendimento não será afetado durante o período de transição. A Santa Casa esclarece que está à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento", disse a instituição.

Na última terça-feira (14), o Ministério Público Estadual pediu a quebra de sigilo bancário, fiscal e dos cartões de crédito de 22 pessoas físicas e jurídicas da Santa Casa, inclusive de Kalilm, conforme noticiou o telejornal "SPTV", da TV Globo. O pedido foi atendido pela Justiça.

Zanone Fraissat - 18. dez.14/Folhapress
Kalil Rocha Abdalla, 72, provedor da Santa Casa de São Paulo renuncia ao cargo em meio à crise financeira
Kalil Rocha Abdalla, provedor da Santa Casa de SP, renuncia ao cargo em meio à crise financeira

CRISE

Segundo uma auditoria contratada pelo governo do Estado de São Paulo no fim do ano passado, a dívida da Santa Casa de São Paulo supera os R$ 770 milhões. Só os débitos com fornecedores superam R$ 100 milhões.

Em julho de 2014, a instituição chegou a fechar o atendimento de urgência e emergência por pouco mais de um dia. À época, o hospital alegou a falta de recursos para comprar medicamentos e materiais como seringas e agulhas.

No começo do ano, o hospital anunciou que demitiria 1.100 funcionários para aliviar as contas. Dias depois, porém, a decisão foi suspensa.

A saída de Kalil era pedida pelos funcionários, que estão com os salários de novembro e o 13° atrasados. Eles chegaram a cogitar uma greve no fim de março, mas decidiram não levar a paralisação adiante para "não prejudicar o futuro da entidade nem o atendimento à população", segundo o Simesp (Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo).

Ainda assim, estabeleceram um prazo de 30 dias para avaliar a evolução da venda de um imóvel na avenida Paulista –que o hospital pôs como garantia num empréstimo com a Caixa Econômica Federal. O dinheiro seria usado para o pagamento dos vencimentos atrasados.


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