Folha de S. Paulo


Bairros passam a ficar sem água quase 20 horas por dia em São Paulo

Moradores da capital têm enfrentado até 19 horas e 30 minutos de corte de água diariamente, uma hora e meia a mais do que o máximo registrado em janeiro, segundo a Sabesp.

Isso ocorre com moradores de pelo menos 53 bairros da zona norte e da zona oeste.

A Sabesp divide a cidade em setores. Os locais onde a falta de água chega a 19 horas e meia são: Vila Brasilândia, Derivação da Vila Brasilândia, Freguesia do Ó e Vila Jaguara.

Na prática, porém, quem vive nesses bairros tem reclamado que fica até mais tempo sem água do que o período que consta oficialmente no site da Sabesp.

"Aqui, a água chega às 8h30. Sai primeiro uma água preta, com pressão, e depois vem branca", afirma a proprietária de salão de beleza Erica Gretter, 35. O estabelecimento fica na rua Coronel Tristão, na Freguesia do Ó (zona norte), onde está prevista a redução de pressão só até as 6h30.

Com o problema, Erica foi obrigada a mudar alguns hábitos. "A gente economiza ao máximo, não desperdiça, e lava mais rápido", diz.

Também na Freguesia do Ó, a cozinheira Maraísa Balbino, 25, sofre com a falta de água no sushi bar onde trabalha. "Quem chega primeiro já guarda em baldes pela manhã para poder usar depois. Atrapalha muito o nosso serviço, porque precisamos de água para tudo. Já chegamos a ficar um dia com as portas fechadas", afirma.

Moradores do Tremembé (zona norte) também reclamaram da situação.

TREMEMBÉ

No site da Sabesp, o bairro do Tremembé (zona norte) aparece entre os quatro com menor período de redução de pressão da capital, com 11 horas de racionamento. Na prática, porém, a realidade é outra, segundo os moradores do local.

O racionamento começa antes das 16h, horário previsto pela Sabesp. "Na segunda-feira retrasada, acabou a água às 14h e depois não veio mais, só no dia seguinte", afirma a psicanalista Ely Maria Mussi, 52. Normalmente, ela diz que a água acaba por volta das 15h.

Segundo Ely, a água só retorna às torneiras, com certeza, na metade da manhã, embora a Sabesp diga que o retorno está previsto para as 3h. "Só dá para usar a máquina de lavar, sem medo de que vá parar, a partir das 9h30. Antes disso, não", afirma.

Em meio à crise de abastecimento, a psicanalista usa a água da máquina para lavar o quintal, onde tem dez cachorros. "Aproveito para lavar o piso", diz. "A gente fica impotente e vulnerável. A situação só tende a piorar, não é", questiona.

Também morador do Tremembé, o atendente da academia Marco Antonio Bonani dos Santos, 18, reclama da torneira seca quando acorda para trabalhar, às 5h, duas horas depois do que o previsto para o retorno. "Muitas pessoas têm vindo para a academia para tomar banho", diz.

COMPARAÇÃO

Em janeiro, a Sabesp divulgou lista com 86 regiões de abastecimento, e 15 tinham redução de pressão por 18 horas ou mais. Agora, são 105 setores, sendo que 26 deles têm corte superior a 18 horas diárias.

Na ocasião, a Sabesp divulgou que o Parque Anhanguera (zona oeste) era o único setor sem redução. Atualmente, parte da região é abastecida pelo setor Vila Jaguara, com até 19 horas e meia de corte.

COMBATE A PERDAS

A Sabesp afirma que os endereços citados pela reportagem, assim como o restante da Grande São Paulo, estão sujeitos a manobras de redução de pressão para combate a perdas de água.

"A empresa explica que está constantemente fazendo reavaliação do período de redução de pressão em determinados pontos", afirma, em nota.

"Isso porque esses locais não conseguem, muitas vezes, receber água a tempo de encher as caixas-d'água, já que estão em pontos mais altos e distantes das estações", diz. A partir dos ajustes, podem voltar a ser abastecidos normalmente, prossegue a nota.

A empresa aconselha a verificação da capacidade das caixas-d'água. A Sabesp diz que "os horários são estimados, podendo haver algumas pequenas variações".

arte


Endereço da página:

Links no texto: