Folha de S. Paulo


Em redes sociais, moradores relatam rotina de confrontos

Uma aluna da escola estadual Theóphilo de Souza Pinto, no Complexo do Alemão, fotografou a parede de sua sala de aula com três buracos feitos por tiros de fuzil.

Registrada no último dia 21 de março, a imagem foi postada pelo Coletivo Papo Reto, movimento de moradores com página no Facebook que reúne um histórico recente de vídeos, fotos e depoimentos sobre a violenta rotina do conjunto de favelas.

"A gente chega para estudar e as salas de aula estão assim. Lamentável", escreveu a aluna que enviou a foto.

A escola foi atingida em um tiroteio entre policiais e traficantes horas antes de visita do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) à comunidade.

Ricardo Borges/Folhapress
Com a participação de moradores, integrantes de ONGs e jornalistas comunitários, o coletivo Papo Reto chama atenção nas redes sociais ao relatar violência
Com a participação de moradores, integrantes de ONGs e jornalistas comunitários, o coletivo Papo Reto chama atenção nas redes sociais ao relatar violência

Em 2015, os moradores deste conjunto de 12 favelas já enfrentaram quase 90 dias ininterruptos com trocas de tiros. Essa rotina de guerra vem sendo relatada, algumas vezes em primeira pessoa, em páginas do Facebook como a Coletivo Papo Reto e a Alemão Morro.

Nos dois casos, as publicações apontam equívocos no projeto das UPPs instaladas no Alemão e até então consideradas um marco do processo de ocupação policial.

"Essa escola fuzilada é uma prova de que não dá certo deixar policiais perto de colégios. Eles fizeram uma base da UPP dentro da escola, que acaba ficando no meio do fogo cruzado", diz Raul Santiago da Silva, 26, do Papo Reto, que soma mais de 7.000 seguidores.

Nascido no Alemão, ele trabalha para uma emissora de TV e dedica parte de seu tempo às redes sociais. A página do coletivo surgiu há um ano.

"A violência aumentou depois da Copa e com a queda de Eike Batista [empresário], que patrocinava as UPPs. Isso se tornou visível com a falta de estrutura para o trabalho dos policiais e a ausência de investimentos sociais. Não é como aparece na novela", ironiza.

"Os próprios moradores ou parentes de vítimas relatam o que acontece e mandam fotos ou vídeos", diz Mariluce Mariá, 33, que tem 5.000 seguidores na página Alemão Morro.

O vídeo abaixo, divulgado por moradores do Complexo do Alemão após a morte, contém imagens agressivas

Veja

Em setembro, Mariluce perdeu um tio, morto por bala perdida num confronto entre traficantes e policiais. Houve outras duas mortes neste mesmo episódio.

Às 14h39 do sábado (28), o Coletivo Papo Reto postou uma imagem do Alemão onde se vê uma bandeira com o rosto de Martin Luther King. Acima da foto, uma frase já proferida pelo ativista norte-americano: "O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos".


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