Folha de S. Paulo


Crise da água faz lucro da Sabesp despencar em 2014

A atual crise de abastecimento de água em SP fez o lucro da Sabesp cair mais do que a metade em 2014.

Se em 2013 a empresa paulista de saneamento lucrou R$ 1,9 bilhão, no ano passado esse valor despencou para R$ 903 milhões.

A deterioração é explicada pela combinação entre uma queda de 6,7% da receita bruta (equivalente a R$ 636 milhões) –provocada pela adoção de descontos para clientes que reduzam o consumo–, um aumento de 13,6% nas despesas da empresa (valor de R$ 1,1 bilhão) e de 18,5% nos investimentos chegando a R$ 3,2 bilhões.

Editoria de Arte/Folhapress
Queda no lucro da Sabesp
Queda no lucro da Sabesp

A desvalorização do real complicou ainda mais a situação da empresa. Cerca de 40% da dívida da Sabesp é em moeda estrangeira, mas a empresa não conta com instrumentos financeiros de proteção contra depreciação cambial.

O agravamento da situação financeira da empresa prejudica a tomada de empréstimos e a capacidade de investimentos necessários para contornar a atual crise hídrica.

A Sabesp tem sofrido forte impacto financeiro com a atual crise hídrica, que é a mais grave que a empresa já teve que enfrentar.

Se, por um lado, a crise fez com que o volume de água consumido diminuísse, por outro exigiu que a empresa encontrasse soluções emergenciais e mais caras para seguir fornecendo água, especialmente na Grande São Paulo.

No início de 2014, no meio do que deveria ser um período de chuvas, a Sabesp percebeu que o nível de seus reservatórios caía em ritmo acelerado.

Para tentar compensar esse efeito, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu reduzir a conta paga por aqueles clientes que economizassem água. Esse, na prática, foi o primeiro impacto financeiro da empresa causado pela crise. Atualmente, 71% dos clientes da Sabesp na região metropolitana da capital paulista recebem contas mais baratas por terem reduzido seu consumo, no chamado plano de bônus.

Já o aumento da conta daqueles que aumentassem o consumo de água, a chamada sobretaxa, só veio em 2015, após as eleições do ano anterior, quando Alckmin acabou reeleito no primeiro turno da disputa.

Outra medida adotada pela empresa foi a de reduzir a venda de água para municípios vizinhos, como Guarulhos e São Caetano do Sul.

RACIONAMENTO

Além disso, o racionamento por meio da redução da força com que a água é empurrada pelas tubulações fez com que milhares de torneiras na Grande São Paulo fiquem secas por horas todos os dias. Os bairros mais altos da periferias são os mais atingidos por essa medida.

Essas ações fizeram com que o volume de água comercializado pela empresa caísse de 73 mil litros por segundo para 51 mil litros. Segundo a Sabesp, o que foi reduzido seria capaz de abastecer a cidade do Rio de Janeiro. A arrecadação da empresa acompanhou a queda.

A situação foi agravada, pois sem perspectivas de chuvas que possam recompor os níveis dos reservatórios, a empresa teve que adotar medidas emergenciais e mais caras para continuar fornecendo água.

ESTRESSE FINANCEIRO

Entre as soluções estão a compra de grandes bombas flutuantes que funcionam 24 horas por dia para captar a água do chamado volume morto, aquela que fica no fundo das represas, abaixo dos tubos de captação da Sabesp.

Outras obras estruturais tiveram que ser aceleradas, como o aumento da capacidade de tratamento de água na represa do Guarapiranga.

Outro problema da empresa é que quase 40% da dívida da empresa –que somava R$ 9,6 bilhões no terceiro trimestre de 2014– é denominada em moeda estrangeira, principalmente dólar, que foi fortemente impactada pela desvalorização cambial.

Para tentar estancar a deterioração de suas contas, a Sabesp teve que cortar R$ 1,1 bilhão em despesas ao longo de 2014.

"Claramente, a Sabesp está sob uma situação de estresse financeiro. Estamos reagindo com unhas e dentes para manter a situação financeira sustentável", disse em fevereiro à Folha Rui Affonso, diretor financeiro e de relações com investidores da empresa.

Para 2015, ainda está previsto um pacote de obras emergenciais como a ligação dos sistemas Rio Grande e Alto Tietê. Essas e outras grandes obras devem seguir aumentando a crise que também já é financeira na empresa.


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