Folha de S. Paulo


Mundo completa 'Década da Água' com milhões de pessoas passando sede

Passam sede hoje no mundo 748 milhões de pessoas, apesar de outras 2,3 bilhões terem conquistado o acesso à água nos últimos 25 anos. Esse é o balanço da "Década da Água para a Vida", instituída pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2005, que termina neste domingo (22).

A desigualdade na oferta, a poluição de rios e mananciais e a falta de planejamento para fases de seca –como a que atinge o Sudeste do Brasi– são as questões a serem superadas na próxima década, segundo analistas.

"Tivemos avanços, mas não podemos nos contentar com 748 milhões sem água", diz Luis Lima, oficial de meio ambiente da Unesco (agência da ONU para educação, cultura e ciência) no Brasil.

O órgão coordena o programa, que incluiu a meta de diminuir pela metade o número de pessoas sem água e sem saneamento. A primeira parte foi alcançada em 2012; a segunda está atrasada e não deve ser atingida, diz Leo Heller, relator da ONU para água.

Os números finais não foram divulgados, mas o último relatório, de 2013, mostrava 2,5 bilhões de pessoas no mundo sem acesso a esgoto.

A portuguesa Catarina de Albuquerque, vice-presidente global da ONG Água e Saneamento para Todos, diz que as melhorias se deram de forma localizada no mundo. "A desigualdade não está sendo diminuída. As boas notícias deveram-se aos progressos na China e na Índia", aponta. "É inaceitável que ainda morram 1.400 crianças por dia de doenças relacionadas a falta de água e saneamento."

POUPANÇA
Nos próximos dez anos, a discussão sobre água deve girar em torno de como administrar melhor o recurso, afirma Ney Maranhão, secretário de recursos hídricos do Ministério do Meio Ambiente. "Teremos que mudar a conduta", diz o secretário. Longos períodos de estiagem, semelhante ao que ocorre hoje no Sudeste brasileiro, podem ficar mais comuns, afirma.

Para evitar isso, Albuquerque defende o planejamento. "Qualquer pessoa de bom senso em uma altura da vida faz poupança. Com a água é a mesma coisa, temos que nos preparar para escassez."

"Não é você combater a seca, porque não vai resolver totalmente. É aprender a conviver com ela", resume Maria Cecília Wey de Brito, secretária da ONG WWF no Brasil.

Ela prega mais investimento na proteção de rios e mananciais, para evitar novos problemas. "São áreas que deveriam ser santificadas em qualquer religião."

Seca e mudanças climáticas estão entre os pontos tratados nas novas rodadas internacionais de negociações. Não há ainda prazo para fechar outros compromissos em relação à água.

Recursos hídricos renováveis pelo mundo


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