Folha de S. Paulo


Cidade do Acre vive o caos após enchente histórica de rio

Passando rente à encosta desmoronada do rio Acre, onde antes havia uma rua comercial, o aposentado Epaminondas Rodrigues, 75, relembra as maiores cheias de Brasileia, cidade acriana que faz fronteira com a Bolívia.

"Teve uma muito grande em 1944. Depois, 78, 82, 88 e 2012. Mas a deste ano foi desmedida, uma catástrofe".

O município foi o mais afetado pela enchente histórica que atinge desde fevereiro áreas cortadas pelo rio –80% de seu território foi alagado.

Editoria de arte/Folhapress

Até casas foram arrastadas. Com vias de acesso encobertas, a cidade ficou cinco dias ilhada e duas semanas sem luz, água e telefone.

Quase 20 dias após o início das chuvas, Brasileia ainda limpa as ruas, e o comércio retoma, aos poucos, a rotina.

O temor dos moradores é que volte a chover forte na cabeceira do rio Acre até abril, possibilidade considerada pela Defesa Civil e especialistas.

"Podem ocorrer alagamentos muito piores", diz o meteorologista Davi Friale, que estuda o clima amazônico. "As chuvas estão muito acima da média e podem se concentrar na bacia do Acre".

Parte dos habitantes pensa em se mudar para áreas altas. Num dos bairros mais atingidos, o ferreiro Derivaldo Andrade, 24, desmontava o que restou de sua casa de madeira. "Agora vou arranjar um depósito para guardar esse material e lugar para morar com a mulher e a sogra".

Outros moradores e lojistas resistem. "Vamos ficar porque aqui tem um monte de comerciante teimoso do inferno", diz, aos risos, Riva Berato, 48. A correnteza levou os fundos do açougue dele.

A cheia de 2012, a maior até então, já tinha feito estragos. Ainda assim, a prefeitura diz ter sido pega de surpresa.

Segundo o secretário de Comunicação Júnior Revollo, não houve obras para evitar um novo desastre. Também não há plano de prevenção a curto prazo, mas algumas obras estão sendo planejadas.

Em estado de calamidade pública, o município recebeu ajuda de R$ 710 mil da União –dos R$ 3,3 milhões destinados ao Acre– mas diz precisar de R$ 4 milhões.

Ainda não há estimativa do prejuízo para a cidade.

Equipes da Defesa Civil Estadual deixaram Brasileia após o nível do rio se normalizar. O coronel Carlos Batista, coordenador do órgão, diz que "não tem como montar esquema emergencial baseado em previsão".

RIO BRANCO

Rio Branco também decretou estado de calamidade pública devido aos alagamentos. Até sexta, alguns bairros só eram alcançados de barco.

Mesmo em bairros de palafitas, onde o nível do rio costuma subir no período chuvoso, a água chegou ao teto de algumas moradias.

"Ontem, uma cobra de rio quase ataca minha mulher", contou o servente Pedro Oliveira, 51, apontando para a casa parcialmente inundada.

De acordo com a Defesa Civil, mais de 1.900 famílias continuavam em abrigos públicos. No auge, 3.400 ficaram nesses locais.

Com 16 metros, o nível do rio ainda é considerado "preocupante" –no ápice, chegou a 18,4 metros.


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