As autoras do blog Think Olga foram convidadas pela Folha a debater questões do chamado novo feminismo.
Criadoras da campanha "Chega de Fiu Fiu", que promoveu debates sobre assédio para além do meio virtual, Juliana de Faria, Luíse Bello, Maíra Liguori e Nana Lima tratam aqui de pornografia.
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Sim! O pornô PODE SER feminista
Leia entrevista com a sueca Erika Lust, fundadora da Lust Filmes, produtora de pornôs feministas:
Você já disse que "o sexo pode continuar sujo, mas os princípios precisam ser limpos". Pornografia pode construir valores positivos?
Acredito que ela possa ser uma ferramenta educacional. Atualmente, a internet facilita o acesso a vídeos pornôs. Eles são a primeira e principal fonte de informações sobre sexo para jovens. Não há como evitar esse acesso e proibi-lo só piora a situação.
O que precisamos fazer é melhorar a qualidade da pornografia e enriquecer os valores que a pautam, de forma que adolescentes não aprendam, com eles, desrespeito e violência.
Consumir pornografia pode ser positivo?
Ela pode ser uma manifestação sobre a sexualidade e o prazer femininos. Pode ensiná-las que têm o direito de fazer o que quiserem na cama sem julgamento ou preconceito.
Uma mulher dirigindo pornôs é o suficiente para quebrar paradigmas?
Precisamos de mais mulheres escrevendo e dirigindo pornôs. Assim, podemos lapidar valores, defender o protagonismo feminino e assumir o controle sobre o que deve ser feito com nossas fantasias e desejos.
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Não! PORNÔ FAZ DA MULHER UM OBJETO
Leia entrevista com Nádia Lapa, especialista em gênero e sexualidade, autora de "Cem Homens em Um Ano" (ed. Matrix):
É contra pornografia?
Para mim, a pornografia objetifica mulheres, mostra-as como coisas a serem utilizadas pelos homens e naturalizam a violência sexual. Os corpos das mulheres devem ter um determinado padrão: depiladas, seios grandes, pequenos lábios cirurgicamente retocados. Há ainda a questão racial: mulheres negras são insaciáveis, homens negros têm sempre pênis enormes, mulheres asiáticas são submissas.
Qual sua visão sobre o fato de a pornografia ser feita entre adultos capazes de dar consentimento àquilo?
Essas "escolhas" podem ser feitas por causa da própria falta de poder das mulheres, pela sua desvalorização social. Se a mulher não entende o sexo como algo que lhe pertence, do qual pode extrair prazer e ligações íntimas de respeito mútuo, por que não ganhar dinheiro com isso?
É impossível discutir consentimento se não há igualdade de condições socioeconômicas. As mulheres, infelizmente, com seus corpos sendo objetificados o tempo inteiro, só podem escolher a forma como farão, porque farão de um jeito ou de outro.