Folha de S. Paulo


Após drogas e HIV, ícone dos rodeios tenta retomar carreira

Ele já chegou a ganhar R$ 1 milhão em um único mês, morava nos Jardins, usava helicópteros e aviões fretados como meio de transporte, saía com lindas modelos e esbanjava dinheiro.

Ícone do mundo dos rodeios, o locutor Waldemar Ruy Asa Branca dos Santos, 52, ou simplesmente Asa Branca, que criou um novo estilo de narração, viu a vida de luxo se evaporar após abusar de sexo, drogas e muito luxo. Perdeu ao menos R$ 10 milhões, segundo ele próprio.

Portador do vírus da Aids desde 1999, o locutor, que apresentava os principais rodeios país afora, era figura fácil em programas de TV. Quase morreu em 2013, após contrair uma doença transmitida por pombos e meningite. Perdeu muito peso.

Ficou três meses internado no instituto Emílio Ribas, fez seis cirurgias na cabeça. Diz estar vivo por "obra divina".

Mas voltou a narrar, já fez 38 rodeios pequenos, ganhou peso e sonha em voltar às grandes festas -diz ter "porteiras abertas". Agora quer gravar um CD e lançar um circuito de rodeios.

"O que aconteceu comigo foi milagre. Ganhei e perdi muito dinheiro. A gente quer mulher, carro, avião, helicóptero. E a vida não é nada disso", afirmou o locutor.

A carreira de Asa Branca foi meteórica. Virou locutor por acaso em 1985, quando o narrador oficial brigou com a direção de uma festa.

Tinha sido eliminado do rodeio no primeiro dia -montava em touros- e perdido o gosto pela atividade após ser pisado por um touro em 1984. O pisão lhe rendeu uma cirurgia no peito.

Tomou gosto pela narração e resolveu se aperfeiçoar. Foi limpar cocheiras no Texas, onde acontecem alguns dos principais eventos da área nos EUA, e conheceu uma tecnologia avançada à época: microfone sem fio.

"Era coisa de outro mundo, nem as TVs brasileiras tinham. Foi quando pensei em usar no Brasil e narrar de dentro da arena, entrevistando peões. Foi o começo de tudo."

Depois, vieram as "pirotecnias": saltava de paraquedas na arena, chegava de helicóptero -de onde já narrou montarias- e fazia a locução em cima de touros.

Tudo isso conquistou o público e o transformou em astro, até a derrocada. "Eram noitadas, festas e drogas. Tinha fretes de avião, helicópteros. Isso tudo custa. Não me arrependo de nada."

Foi em meio a essa vida que surgiu o HIV. "Contraí com namoradas mesmo", disse. Há sete anos, ele está casado com Sandra, que já era soropositiva.

RECOMEÇO

Embora tenha ganhado "rios de dinheiro", como define, com rodeios, comerciais, e em sua fazenda, voltou a narrar com um cachê "modesto": R$ 5.000 por noite.

Em Naviraí (MS), em dezembro de 2013, com a voz distante do tom que o consagrou, tinha medo de o corpo não aguentar, por causa das cirurgias na cabeça.

"Aguentei até o final, mas foi preocupante. O medo era tomar cabeçada de um touro, pois voltei dentro da arena. Mas medo não pode existir no rodeio. É uma festa de bravos", diz ele, que tem narrações agendadas até setembro.

'FESTA DE BRAVOS'

Se dentro da arena afirma não ter medo, fora ele diz recear pelo rodeio em São Paulo, devido às entidades de proteção animal.

"Alegam que o rodeio judia. Se fosse para eu ser um animal, queria ser de rodeio, com veterinário 24 horas por dia, as melhores rações, os melhores remédios."

Mas pondera: ainda há amadorismo no meio, e muitos tropeiros -donos de boiadas- querem que os animais pulem de qualquer jeito.

"Fazem maldade, colocando tachinhas ou até pregos para fazer pressão no touro para que ele pule. Há animais que não nasceram para rodeio e não adianta forçar."


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