Folha de S. Paulo


Vítima da seca, casal de SP fecha comércio e bebe água da chuva

Quando a crise da água começou a apertar em SP no início de 2014, a casa dos comerciantes Maria Aparecida Oliveira, 45, e Filomeno de Almeida, 64, ficava com as torneiras secas a noite toda.

Um ano depois, a situação dos moradores de um sobrado na Freguesia do Ó, na zona norte, está ainda pior.

Hoje, a família se vira com apenas quatro horas de fornecimento, das 9h às 13h.

Nos últimos meses, para escapar desse caos e suprir o desabastecimento, o casal investiu R$ 8.000 numa caixa-d'água e em um sistema de captação de água da chuva.

Apu Gomes/Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Maria Aparecida Pereira Oliveira, 44, em abril de 2014, já reclamava que há meses enfrentava racionamento forçado à noite// em fevereiro de 2015, ela mostra as caixas d'água que instalou na sua casa na na Freguesia do Ó
Em abril de 2014, Maria Aparecida já reclamava que há meses enfrentava racionamento forçado à noite// em fevereiro de 2015, ela mostra as caixas d'água que instalou na sua casa na na Freguesia do Ó

"Só não falta água por causa de nossos esforços. Não ia dar para contar só com a Sabesp", afirma Aparecida.

A água da chuva era usada apenas para regar plantas e lavar o quintal, mas a boa aparência encorajou o casal a aproveitá-la, também, para lavar roupas e tomar banho.

Nesta sexta (27), a Folha presenciou Almeida bebendo um copo de água desse reservatório. Minutos depois, os olhos do comerciante ficaram vermelhos, mas ele alegou estar se sentido bem.

O geólogo e professor da USP Pedro Luiz Côrtes diz que não é recomendável usar a água da chuva para consumo humano ou higiene pessoal.

"Essa água deve ser usada apenas em locais em que a chuva passaria normalmente, como a lavagem de veículos e calçadas", afirmou.

A crise fez o casal interromper a produção de pães de queijo comercializados na região. "Consumia muita água. Agora, fazemos só para amigos", afirmou Almeida.

Editoria de Arte/Folhapress

CANECA

Em Pirituba, também na zona norte, a cabeleireira Karina Rodrigues, 33, passou a usar uma caneca para lavar o cabelo de suas clientes a partir das 10h, quando começa a redução de pressão no bairro.

A medida levou o número de clientes cair mês a mês. "Ninguém gosta de passar por isso, principalmente no frio", diz a cabeleireira.

A moradora de Itaquera (zona leste) Nívea Alves, 43, disse que a redução de pressão passou de 9 para 18 horas diárias. Como a caixa-d'água de sua casa tem só 500 litros, a família de cinco pessoas busca outras opções.

"Eu, meu marido e meus dois filhos maiores buscamos água com baldes numa bica a cerca 500 metros da minha casa quando a caixa seca."

Para ela, o único ponto positivo do último ano é que a redução ganhou horário fixo. "Porque avisar que tem racionamento, ninguém avisou."


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