Folha de S. Paulo


Sabesp prevê SP sem rodízio em 2015, mesmo com pouca chuva em março

A Sabesp, a estatal paulista de água, acredita que, mesmo com um baixo nível de chuvas até o final de março, é possível que São Paulo passe pelo ano de 2015 sem um rodízio.

A condição para isso, no entanto, é a entrega de uma série de obras prometidas pela gestão de Geraldo Alckmin (PSDB) para aumentar a oferta de água na região metropolitana de São Paulo nos próximos meses.

"Na minha opinião não será necessário fazer rodízio. Mas não estou afirmando que não haverá porque o cronograma de obras pode atrasar e o cenário meteorológico poderá ser pior do que o esperado", disse o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, durante a participação na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara Municipal de São Paulo que investiga o contrato entre a Prefeitura de São Paulo e a estatal paulista da água.

"Hoje estamos com uma situação um pouco mais confortável. Podemos trabalhar com cenários mais otimistas do que tivemos até 1º de fevereiro. [...] Só no final do período chuvoso é que poderemos tomar uma decisão sobre como poderemos passar o período de estiagem", afirmou o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, antes do início da sessão da CPI.

No final da semana passada, o governador já havia sinalizado que um rodízio não será necessário por conta da água da represa Billings.

"Só no final do período chuvoso [fim de março] é que poderemos tomar uma decisão sobre como poderemos passar o período de estiagem", completou o superintendente da Sabesp, sobre a implantação ou não de um rodízio em toda a Grande São Paulo.

O dirigente da Sabesp, no entanto, admitiu que, mesmo com a melhora do volume de chuvas em fevereiro nos principais reservatórios, a situação da crise hídrica persiste. "Nós estamos ainda com uma situação crítica. Nós precisamos recuperar todo o volume morto da primeira cota. Nós estamos trabalhando em uma situação de contingência de grave crise hídrica."

O sistema Cantareira, por exemplo, o maior sistema da metrópole e que abastece 6,2 milhões de pessoas, opera nesta quarta-feira (25) com 10,8% de sua capacidade. Apenas para recuperar toda a água retirada dos fundos da represa, o chamado volume morto (ou "reserva técnica", segundo o governo), o manancial teria de subir até 29,2%, cenário possível somente no verão 2015/2016.

Além do nível do reservatório estar baixo, a entrada de água no sistema ainda continua abaixo da média. Neste mês, em média os rios da região descarregam 41,4 mil litros de água por segundo. A média para o mês é de 73,9 mil.

Na Câmara Municipal de SP, o superintendente afirmou mais uma vez que a Sabesp espera o fim do período chuvoso, que vai até março para decidir se deverá implantar um rodízio na Grande São Paulo. A Folha apurou que a Sabesp trabalha com um "gatilho" entre 14% e 16%. Assim, se o índice do Cantareira estiver acima de 14% ou 16%, estaria suspensa em 2015 a possibilidade de rodízio.

ÁGUA CONTAMINADA

O diretor metropolitano da Sabesp disse que a implantação de um rodízio na Grande São Paulo poderia aumentar o risco de contaminação da água. Segundo a companhia, no entanto, a implantação do rodízio seria uma alternativa extrema, diante da atual crise de abastecimento da Grande São Paulo.

A possibilidade de contaminação ocorre, pois o fechamento total das tubulações pode fazer com que agentes contaminantes entrem nas tubulações. "Se implantando o rodízio [hipoteticamente], se a rede fica despressurizada, principalmente em regiões de topografia acidentada, nos pontos em que a tubulação está em declive, se o lençol freático está contaminado, aumenta o risco de contaminação [da água na rede]", disse Massato.

Entre os efeitos de uma contaminação da água, segundo a Sabesp, está a possibilidade de desinteria. "Nós temos medicina suficiente para minimizar risco de vida para a população. Uma desinteira, pode ser mais grave ou menos grave. Mas é um risco que nós queremos evitar [o de implantar um rodízio]", disse Massato.

Massato disse ainda que a Sabesp tem capacidade de análise para verificar se a água das tubulações estejam contaminadas, em um eventual rodízio. Ainda segundo ele, a Sabesp poderia "descontaminar" rapidamente a água que possa ser afetada.


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