Folha de S. Paulo


Manifestantes mantêm ocupação na Assembleia do Paraná

Apesar da determinação da Justiça, centenas de servidores e professores públicos que passaram a noite na Assembleia Legislativa do Paraná, em protesto contra a votação de um pacote de medidas do governo Beto Richa (PSDB) para cortar gastos públicos, continuam no local.

No início desta manhã, um oficial de Justiça levou uma ordem de reintegração de posse aos manifestantes, concedida a pedido do governo do Paraná. A multa em caso de descumprimento é de R$ 10 mil por hora.

"É algo absolutamente arbitrário. O Estado do Paraná está agindo como uma ditadura. O Estado democrático foi para as cucuias", afirmou o presidente do sindicato dos professores, Hermes Silva Leão. Ele diz que os manifestantes irão recorrer da decisão.

Os servidores dizem que só saem da Assembleia quando o governo retirar as medidas de votação.

Segundo o sindicato dos professores, ao menos 800 servidores das áreas de educação e saúde dormiram em barracas e no chão da Assembleia na madrugada desta quarta-feira (11). Comeram frutas, sanduíches e pacotes de bolacha, além de tomarem copinhos de água trazidos pelos sindicatos.

Para aguentar o cansaço, os manifestantes fizeram revezamento nas cadeiras dos 54 deputados, enquanto outros deitavam no chão. "A cadeira é mais confortável", diziam.

Dutos de ventilação foram abertos, no piso, para suportar o calor. Travesseiros e cobertores, além de barracas, eram trazidos por quem estava do lado de fora.

"Foi exaustivo, mas estamos lutando por aquilo em que acreditamos", diz a professora Valderez Aparecida Bueno, 58, que veio de Francisco Beltrão (sudoeste do Paraná) para o protesto em Curitiba.

No final da tarde de terça-feira (10), centenas de manifestantes invadiram a Assembleia, no meio da votação das propostas, e suspenderam a sessão. Havia 10 mil servidores do lado de fora, acompanhando a votação.

Os manifestantes pularam das galerias para o plenário, aos gritos de "vergonha" e "o povo unido jamais será vencido". Outros que estavam do lado de fora derrubaram um portão e também entraram no prédio. Vidros e portas foram quebrados, mas não houve confronto com a PM.

Os deputados tiveram que se refugiar em uma sala anexa ao plenário. Escoltados por policiais, conseguiram chegar ao prédio dos gabinetes, vizinho ao prédio principal.

"Foi a coisa mais linda de ver; aquele bando de deputado correndo, como se fosse galinha assustada", afirma Bueno.

PACOTAÇO

Reeleito no ano passado, Richa tem enfrentado uma crise financeira há pelo menos dois anos, que já forçou o Estado a suspender obras, atrasar pagamentos e parcelar salários de servidores.

Na última semana, o tucano propôs um pacote de medidas para aliviar o caixa, que incluem a mudança da previdência dos servidores públicos (que passam a ter um teto de vencimentos), o fim do anuênio, mudanças no plano de carreira e o congelamento de um quarto do orçamento.

O plano foi apelidado de "pacotaço das maldades" pela oposição. O governo chegou a voltar atrás no fim do anuênio e no plano de carreira, mas mantém as outras medidas.

Para o governo, as medidas são "duras, mas necessárias", e precisam ser aprovadas para garantir o pagamento dos salários e retomar os investimentos. "O momento é dificílimo. O país atravessa uma crise", afirmou o líder do governo, deputado Luiz Cláudio Romanelli (PMDB).


Endereço da página:

Links no texto: