Folha de S. Paulo


Escolas de São Paulo vetam até escova de dente para economizar água

Em meio à crise da água, escolas da rede municipal de São Paulo retomam as aulas nesta quarta-feira (4) com medidas extremas. Crianças serão proibidas de escovar os dentes. Outras receberão a chamada "merenda seca" –sanduíches em guardanapos, em vez de refeições em pratos, que precisam ser lavados.

Algumas unidades destacaram funcionários e/ou professores para acompanharem os alunos no banheiro, para evitar o uso excessivo de torneiras e descargas.

As atitudes são uma resposta a decreto imposto pelo prefeito Fernando Haddad (PT) que obriga as escolas municipais a reduzirem em 20% o consumo de água.

Thais Bilenky/Folhapress
Tatiane Silva (de azul) no colégio onde os filhos estudarão
Tatiane Silva (de azul) no colégio onde os filhos estudarão

A Folha esteve em seis escolas na zona norte de São Paulo nesta terça-feira (3).

Em três unidades, diretores disseram que, em vez de lavar as mãos com água e sabão, as crianças serão orientadas a usar álcool em gel.

Editoria de Arte/Folhapress

Em um desses colégios, não será mais permitido tomar água diretamente do bebedouro. Cada estudante terá uma caneca, e professores supervisionarão o consumo.

Gestores afirmaram que os docentes deverão trabalhar o tema da crise da água em classe, como forma de conscientizar alunos e famílias.

A medida pode beneficiar a mãe Tatiane Silva, 32. Ela diz que falta água em sua casa diariamente e que depende da colaboração dos filhos, matriculados em uma das escolas visitadas, para poupar o necessário. "Enquanto eles lavam louça, tenho que ir lá fechar a torneira", afirma.

Nas unidades, a lavagem de pátios, quadras e corredores será feita com vassouras e, se necessário, com baldes de água e panos. O uso de mangueiras foi suspenso.

Para o médico infectologista Caio Rosenthal, algumas dessas medidas são "criminosas". Proibir alunos de escovar os dentes pode causar cáries, infecções e complicações "seríssimas", diz.

Substituir refeições por sanduíches, se tiverem menor valor nutricional, é "discriminatório", em sua opinião.

"Supõe-se que são crianças que não têm refeição de excelência em casa. Baixar o nível também na escola é inadmissível", diz. "Se há estado de guerra, quem deve ir para o front é o soldado, não a criança. Ela terá que pagar pelo resto da vida por um descuido das autoridades?"

Thais Bilenky/Folhapress
Faxina deixa poça em escola de ensino fundamental na Freguesia do Ó (zona norte de SP)
Faxina deixa poça em escola de ensino fundamental na Freguesia do Ó (zona norte de SP)

MANGUEIRA

Enquanto alguns colégios adotam medidas drásticas para reduzir o consumo de água, em uma escola de ensino fundamental na Freguesia do Ó, a rotina não mudou.

Segundo uma funcionária, a diretora ordenou duas lavagens com mangueira em menos de uma semana para receber os alunos.

A caixa-d'água de 3.000 litros teria sido esvaziada mais de uma vez com essa finalidade. Quando a reportagem esteve no local, havia poças nos corredores, quadras e pátios, e o piso dos banheiros estava úmido.

Procurada, a Secretaria Municipal de Educação afirmou que as medidas recomendadas para as escolas são uso racional da água, manutenção das redes hidráulicas com problemas e reforço nas orientações aos alunos.


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