Folha de S. Paulo


Possível rodízio em SP vira 'piada' em condomínio sem água há 11 dias

Chorando copiosamente, a segurança Andreia Mafra Gentile, 38, abre a porta do apartamento em Guaianases, no extremo leste de São Paulo, para mostrar como vive há 11 dias sem água.

Moscas sobrevoam a louça suja na pia, enquanto o cheiro do esgoto acumulado na fossa do prédio invade as janelas do condomínio de casas populares da Vila Hortência, a cerca de 27 km do centro da capital.

Junto com outros vizinhos, ela chegou a tentar fazer uma vaquinha para comprar um caminhão-pipa, mas não deu. "A maioria não tem dinheiro nem para comer", afirma.

Andrea contou que está com uma infecção, e os lençóis da cama amanhecem sujos de sangue.

Sem uma gota na torneira, sai com os dois filhos –uma menina de 13 anos e um menino de 11– e anda cerca de um quilômetro para buscar água na casa de amigos.

Cada criança carrega seis garrafas pet, enquanto ela leva um galão de 20 litros. "Nós somos em cinco, então temos de fazer mais de uma viagem. Com muita economia, gastamos só 40 litros por dia."

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), são necessários 110 litros por dia por habitante para atender às necessidades básicas de higiene e hidratação.

Na rua onde Andreia mora, pessoas passam com baldes e bacias a todo instante.

Ali, é tratado como "deboche" o possível rodízio de cinco dias com água e dois sem previsto pelo governo em caso de agravamento da crise.

"É constrangedor alguém que toma banho de canequinha há mais de uma semana ter que ouvir isso", diz a empregada doméstica Lilian Rodrigues dos Santos, 44.

Aos 72, a aposentada Joana Ferreira dos Santos conta com a ajuda dos vizinhos. "Tenho dificuldade até de andar e agradeço cada litro que minhas amigas trazem".

Já o farmacêutico Reginaldo da Silva, 37, cogita se mudar de São Paulo. "Hoje faço minhas necessidades no banheiro do trabalho e, em casa, tomo banho com três litros de água", conta.

Morador de uma rua ao lado, ainda com água, o segurança Antonio Pereira Carvalho, 65, coloca uma bacia embaixo do chuveiro. "Depois que a gente tomar banho, vamos usar a água para lavar algumas roupas e, depois, reaproveitamos no quintal e no vaso sanitário", diz.

Quem se deu bem, mas em termos, foi o vendedor de galões de água mineral Clodoaldo José Amaro de Sousa, 44.

"Antes vendia no máximo 200 galões por dia, hoje são pelo menos 300", diz. "Mas o pior é que eu moro na Cidade Tiradentes, aqui perto, e passo pelo mesmo problema".

OUTRO LADO

A Sabesp informou, em nota no início da noite desta quarta (28), que o fornecimento de água estava sendo restabelecido no condomínio e que a área onde ele fica é uma das sujeitas à redução da pressão da água.

A empresa afirma que tem promovido "ajustes na gestão de pressão" para evitar que moradores fiquem mais de 24 horas sem água, "mas imóveis em regiões mais altas e distantes dos reservatórios podem levar mais tempo para ter o serviço retomado".

A companhia "ressalta a importância de as moradias contarem com caixa d´água".


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