Folha de S. Paulo


Governo de SP já planeja rodízio de até cinco dias sem água por semana

Pela primeira vez desde o início da maior crise de abastecimento da Grande São Paulo, a Sabesp admitiu nesta terça-feira (27) que pode adotar um rodízio de cinco dias para a região metropolitana da capital paulista.

Segundo o diretor metropolitano da empresa, Paulo Massato, o esquema funcionaria com cinco dias da cidade sob rodízio e dois dias sem.

"Para fazer um rodízio, teríamos de fazer um rodízio muito pesado. Se as chuvas insistirem em não cair no Sistema Cantareira, seria uma solução de um rodízio muito pesado, muito drástico" (...) "No cálculo conceitual para reduzir 15 metros por segundo no Cantareira, precisaria de um rodízio de dois dias com água, por cinco dias sem água", disse.

Procurada, a Sabesp não detalhou o plano apresentado pelo diretor. Também não explicou se os cinco dias sem água, a que se refere Massato, seriam aplicados em toda a cidade de uma só vez, ou se, dentro de São Paulo, durante cinco dias, seria feito um rodízio entre bairros.

A declaração foi feita durante a inauguração de uma obra no manancial do Alto Tietê, com a presença do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Massato, no entanto, disse que o cenário só será usado se as chuvas não chegarem e obras feitas pela Sabesp não ficarem prontas antes do esgotamento dos reservatórios.

"Se for necessário, para não chegar no zero da represa, sem água nenhuma para distribuir (...) podemos correr esse risco, do rodízio drástico".

Segundo ele, a empresa ainda estuda contratos para viabilizar o plano.

O sistema Cantareira, por exemplo, opera nesta terça-feira (27) com 5,1% de sua capacidade, já contabilizando duas cotas do volume morto, porção de água que fica abaixo das tubulações e que precisa ser bombeada para ser captada.

O Cantareira abastece 6,2 milhões de pessoas na Grande São Paulo e com a chuva desta segunda, o sistema acumulou 21 mm de água. Até agora, o manancial acumula quase a metade do volume esperado para todo o mês de janeiro: 134,2 mm de água –o que equivale a 49,5% da média histórica para o mês (271,1 mm).

Se for levado em conta o ritmo de queda dos reservatórios que abastecem a Grande São Paulo, nas primeiras três semanas de 2015, eles chegariam a zero em cerca de 130 dias.

Durante a campanha à reeleição, o governador Alckmin afirmou em debate na TV com outros candidatos, no dia 30 de setembro de 2014, que, enquanto 20% das cidades brasileiras estavam em estado de emergência ou de calamidade pública, o governo garantia na cidade de São Paulo "o abastecimento, com uma grande reserva para frente, e investimentos".

"Não falta água em São Paulo, não vai faltar água em São Paulo. Nós estamos trabalhando com planejamento, obras e investimento", disse o então candidato no final do debate.

Rubens Fernando Alencar e Pilker/Folhapress

REDUÇÃO DE PRESSÃO

Com a grave estiagem, a Sabesp começou a reduzir a pressão nas tubulações para economizar água. Ao reduzir a pressão na rede de abastecimento, o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) "empurra" menos água pelos canos. Por um lado, reduz os vazamentos no sistema. Por outro, deixa casas sem água, em especial aquelas localizadas em pontos altos.

Com a ampliação dos cortes de água e com o aumento das reclamações, a Sabesp criou uma página em seu site na qual informa aos clientes da Grande São Paulo e da capital paulista os dias e os horários em que a pressão na rede de distribuição de água será reduzida.

O governador de São Paulo já discute novo aumento na tarifa de água a partir de abril, quatro meses após o último reajuste. Outra hipótese estudada é o endurecimento da cobrança de sobretaxa para quem gastar mais água. Além disso, o governo paulista já considera utilizar a terceira cota do volume morto do Cantareira.

Como saída para amenizar a crise da água, Alckmin quer usar a água da represa Billings para reduzir os impactos da crise que atinge a Grande São Paulo. Contudo, a represa Billings tem lixo acumulado em diversos pontos e água esverdeada pela proliferação de bactérias. "Isso aqui é um horror, só piorou nos últimos anos", diz a empresária Cornélia Juchem, de Diadema. A Sabesp diz ser possível transformar a água em potável, mas não detalha o que fará.

DEMAIS SISTEMAS

Já o nível do reservatório Alto Tietê, que também sofre as consequências da seca, opera com 10,4% de sua capacidade após subir 0,1 ponto percentual em relação ao dia anterior. Com o temporal de segunda, o sistema acumula 85,9 mm de água –o que corresponde a 34,15% da média histórica para janeiro (251,5 mm).

O sistema abastece 4,5 milhões de pessoas na região leste da capital paulista e Grande São Paulo. No dia 14 de dezembro, o Alto Tietê passou a contar com a adição do volume morto , que gerou um volume adicional de 39,5 milhões de metros cúbicos de água da represa Ponte Nova, em Salesópolis (a 97 km de São Paulo).

A represa de Guarapiranga, que fornece água para 5,2 milhões de pessoas nas zonas sul e sudeste da capital paulista, opera com 46% de sua capacidade após o nível subir 2,3 pontos percentuais em relação ao índice anterior.

O sistema foi o que mais se beneficiou com a forte chuva desta segunda: 29,8 mm de água acumulado no reservatório. O Guarapiranga deve ser o único sistema a atingir o volume esperado para o mês de janeiro. Até agora, o manancial acumula 218,2 – o que equivale a 95,1% da média histórica para o mês (229,3 mm).

O nível do reservatório Alto de Cotia, que fornece água para 400 mil pessoas, caiu 0,1 ponto percentual e opera nesta terça com 28,4% de sua capacidade. Já o sistema Rio Grande, que atende a 1,5 milhão de pessoas, opera com 74,1% de sua capacidade após subir 0,1 ponto percentual em relação ao índice anterior.

O reservatório de Rio Claro, que atende a 1,5 milhão de pessoas, opera com 27,1% de sua capacidade após baixar 0,3 ponto percentual em relação ao dia anterior.

A medição da Sabesp é feita diariamente e compreende um período de 24 horas: das 7h às 7h.


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