A greve de motoristas e cobradores deixou os moradores de Curitiba sem ônibus na manhã desta segunda-feira (26). Cerca de 2 milhões de passageiros dependem do transporte coletivo na capital paranaense.
A categoria reclama que, desde o fim do ano passado, as empresas de transporte têm atrasado os salários. No último dia 20, os trabalhadores não receberam o adiantamento de 40% do salário, o que motivou a paralisação de hoje.
Segundo o Sindimoc (sindicato da categoria), 100% dos ônibus deixaram de circular. A Prefeitura de Curitiba conseguiu ordem da Justiça para manter pelo menos 50% da frota nas ruas, mas o sindicato diz não ter sido notificado. A paralisação é por tempo indeterminado.
Estelita Hass Carazzai/Folhapress | ||
Ponto de ônibus no centro de Curitiba totalmente deserto na manhã desta segunda-feira (26) |
Desde a meia-noite, piquetes em frente às garagens das empresas de transporte impedem a saída dos veículos. Alguns ônibus tiveram os pneus esvaziados.
Com a greve, passageiros dependem de lotações particulares, que cobram R$ 6 pela passagem (contra R$ 2,85 da tarifa normal), ou do transporte individual para chegarem ao trabalho.
Muitos moradores de Curitiba se atrasaram pela manhã. Algumas lojas no centro só abriram perto do meio-dia. Outros empresários, prevenidos, buscaram seus funcionários de carro, em "caravanas", ou pagaram táxis.
A prefeitura tentou remediar: para substituir os icônicos biarticulados –os ônibus "vermelhões" que se tornaram símbolo do transporte de Curitiba–, kombis foram colocadas à disposição dos passageiros nos principais terminais. As peruas operam gratuitamente e fazem o mesmo roteiro dos biarticulados.
"Estão certíssimos de fazerem greve. Trabalhar sem receber?", comentou a assistente administrativa Elizabete dos Santos Gois, 48. Depois de desistir de esperar pelo ônibus que a levaria ao trabalho, ela ainda aguardou uma hora e meia no telefone para conseguir um táxi nesta manhã. "Só consegui ser atendida às 9h. As linhas só davam ocupado."
O trânsito também ficou mais congestionado do que o normal pela manhã. Mas o movimento, tanto nos terminais de ônibus quanto nas ruas, foi menor que em greves passadas, por causa das férias escolares.
Esta é a terceira greve geral dos ônibus em Curitiba desde 2012.
FUNDO POLÍTICO
As empresas de ônibus argumentam que estão sem dinheiro devido a atrasos nos pagamentos feitos pelo poder público.
O governo do Paraná, comandado por Beto Richa (PSDB), dá um subsídio mensal ao sistema, mas ainda não pagou as últimas três parcelas, numa dívida de R$ 16,5 milhões.
A prefeitura, gerida pelo adversário político Gustavo Fruet (PDT), afirma que a falta desse repasse impediu o pagamento integral às empresas.
Governo e prefeitura travam agora uma queda de braço para definir o valor mensal dos repasses. No início do mês, o convênio que firmava o subsídio expirou.
A gestão de Richa quer pagar menos por passageiro; a prefeitura discorda do cálculo feito pelo governo e o acusa de "desinteresse" pelo transporte coletivo.