Folha de S. Paulo


Principal reservatório de água que abastece o Rio atinge volume morto

O nível do reservatório de Paraibuna, o principal do sistema que abastece o Estado do Rio, atingiu o volume morto nesta quarta-feira (21).

A informação consta do balanço do setor energético, publicado diariamente pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). O boletim da última quarta foi publicado na manhã desta quinta-feira (22).

O volume do Paraibuna, que na segunda-feira passada estava em 0,15%, caiu a zero 48 horas mais tarde. O reservatório faz parte de hidrelétrica da Cesp (Companhia Energética de São Paulo). Ele fica no município de mesmo nome, no Vale do Paraíba (SP), e considerado o coração do sistema que abastece o Rio de Janeiro.

Ele é o maior do grupo de quatro reservatórios, todos eles em níveis historicamente baixos, do rio Paraíba do Sul, a única fonte de abastecimento de água fluminense. Os outros três reservatórios do Paraíba do Sul– Santa Branca, Jaguari e Funil– estão com volume respectivamente de 0,65%, 2% e 4,15%.

O sistema de abastecimento do Rio é diferente do de São Paulo. O Estado é abastecido pelo Paraíba do Sul, um rio federal que nasce em São Paulo e passa por Rio e Minas. Os reservatórios existentes são os das usinas hidrelétricas. Diferentemente de São Paulo, que tem reservatório exclusivos para abastecimento de água controlados pela Sabesp, os do Paraíba do Sul tem dupla função– geração de energia e abastecimento humano– e são de propriedade das usinas.

As regras de utilização dos reservatórios do Paraíba do Sul são feitas em conjunto pela ANA, ONS, governos dos Estados de Rio, São Paulo e Minas e pelas hidrelétricas que os administram. Há comitês que reúnem essas instituições e órgãos da sociedade civil para o monitoramento da situação e decisão sobre a operação.

Em Barra Piraí, interior do Rio, há uma transposição do Paraíba do Sul para Guandu, rio artificial que abastece a capital e a região metropolitana. A redução do nível dos quatro reservatórios no curso do Paraíba do Sul, reduz a vazão do rio antes dele chegar na transposição, que abastece 11 milhões de pessoas. O Paraíba do Sul segue para outras regiões do Estado do Rio.

Segundo o site da ANA, o volume morto do Paraibuna tem 2,095 trilhões de litros. Questionada, a agência ainda não se pronunciou sobre como será feita a utilização do volume morto do Paraibuna. Não é possível saber neste momento o quanto desse volume, considerado por especialistas suficiente para abastecer o estado do Rio por cerca de seis meses, irá para o abastecimento do Estado.

Há um quinto reservatório no Estado, o da hidrelétrica de Lajes, que fica no rio Piraí, no município de mesmo nome no interior do Rio, que não foi concebido para armazenamento de água para consumo, mas que teria, segundo especialistas, água suficiente para abastecer a região metropolitana por 15 dias.

A queda do nível dos reservatórios que compõe o sistema do Rio chama atenção. Há três meses, em novembro do ano passado, o nível do Paraibuna, o maior reservatório do sistema, e de Funil, o segundo maior e único dos quatro que fica em território fluminense, eram, respectivamente, seis e três vezes maiores que o registrado ontem.

Na última sexta-feira, entrevistado para uma reportagem sobre o nível baixo do Paraibuna publicada no último sábado por esta Folha, o gerente de projeto da consultoria Cohidro, Celso Ávila, afirmou que usar o volume morto do reservatório seria adiar um problema, já que ele demoraria ainda mais para se recuperar.

Em 16 de outubro, no meio da disputa eleitoral em que saiu vitorioso, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, afirmou que "se a seca continuar pelos próximos 30 dias, vamos ter problemas". Não choveu significativamente desde então. Procurado na última sexta-feira para comentar o assunto, não se pronunciou. A Folha questionou novamente o governador e até o momento não obteve resposta.

Jorge Briard, presidente da Cedae, a empresa que cuida do abastecimento da região metropolitana e de outros 62 municípios do Estado, negou na última sexta que houvesse a necessidade de racionamento. A companhia, explicou, já trabalha com uma tarifa diferenciada para quem consome menos e colocou na rua uma campanha para uso consciente da água. Ele disse, contudo, que "se tivermos período ainda mais longo de estiagem, é provável que o volume morto do Paraibuna precise ser usado", mas ressaltou que a empresa não tem ingerência sobre isso. A Folha ainda não conseguiu contato com Briard para essa reportagem.


Endereço da página: