Folha de S. Paulo


Principal aposta da Sabesp, redução de pressão pode contaminar água

A redução de pressão na rede, principal aposta da Sabesp para reduzir o consumo de água na Grande São Paulo, aumenta a possibilidade de contaminação, caso seja feita de maneira equivocada, segundo especialistas.

Em entrevista publicada na Folha nesta segunda (19), a hidrologista Newsha Ajami, diretora do programa Water in The West, da Universidade de Standford, disse que a medida não é uma técnica usual na Califórnia, Estado americano que, assim como São Paulo, enfrenta grave seca e crise de abastecimento.

"Não fazemos isso na Califórnia e não achamos que é uma boa ideia. A redução da pressão da água aumenta o risco de contaminação."

Para Marcelo Libanio, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica da UFMG, a contaminação ocorre em situação muito específica. "O risco existe, mas se a rede continuar pressurizada, isso não ocorre", diz.

Segundo especialistas, há contaminação quando, com a redução, a pressão nas tubulações chega a ficar negativa em determinado ponto. Ali, se houver algum vazamento, há o risco de entrada de bactérias, ar e até esgoto.

Normalmente, se há alguma rachadura nos canos, a alta pressão faz com que a água saia e não deixe nada entrar.

Justamente para diminuir essa perda de água pelos furos da rede (que na Grande São Paulo fica em torno de 19%), a Sabesp diminui a força com que a água é enviada pelos encanamentos.

O efeito colateral disso é que, se em algum ponto danificado da tubulação, a pressão chegar a ser negativa, a água que costumava vazar pelas tubulações, pode retornar para os canos contaminada pela terra que envolve os canos.

Em situações extremas, caso a tubulação de esgoto também esteja danificada, pode haver a entrada de esgoto na rede de água.

A Sabesp informa que mantém uma pressão mínima nas tubulações que garante que contaminantes não entrem na rede.

INTENSIFICADA

A redução de pressão é uma operação que ocorre na Grande São Paulo desde 1997. Com o agravamento da crise de abastecimento, no entanto, foi intensificada e hoje é adotada em todos os bairros em que a Sabesp opera na região metropolitana.

Os especialistas concordam com a medida como forma de economia de água, desde que ela consiga atender a todas os consumidores, o que nem sempre ocorre.

Segundo a Sabesp, ela é responsável pela economia de 8 m³/s de água. Para se ter uma ideia, isso é cerca da metade do que tem sido retirado diariamente do sistema Cantareira, que nesta segunda-feira tinha 5,8% de sua capacidade.


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