Folha de S. Paulo


Gringos deslumbrados com SP elogiam tamanho, diversidade e cultura

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Uma dupla de cineastas e fotógrafos americanos veio a São Paulo visitar um amigo para ficar duas semanas. Acabou ficando seis.

Os amigos de San Francisco (EUA) Walker Dawson, 24, e Nick Neumann, 25, começaram a viajar pela América do Sul, em 2014, pelo projeto Breaking Borders, produzindo vídeos, fotos e relatos na internet sobre os lugares visitados.

A primeira parada foi o Rio, durante a Copa. Aproveitaram para dar um pulo em São Paulo, e o resultado foi o curta "São Paulo: A cidade mais subestimada do mundo". Bombou: o vídeo superou 245 mil visualizações no Youtube e rendeu, inclusive, um tuíte do prefeito Fernando Haddad.

Admirados com o tamanho e a diversidade da capital paulista, dizem ter se apaixonado por ela. "Sofisticada", "vibrante" e palco de "uma grande contracultura" foram algumas das impressões dos gringos sobre São Paulo.

"É uma das maiores cidades que já vimos, e essa densidade e imensidão produz uma energia incomparável a quase nenhum lugar do mundo", afirma Dawson, em entrevista à Folha.

Eles admitem que não passaram da fase de "lua-de-mel" com Sampa, o que talvez explique tanta paixão. Mas dizem ter planos de retornar e viver por um período mais longo na capital paulista.

Leia a entrevista com Walker Dawson e Nick Neumann, do Breaking Borders:

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Folha - Quanto tempo tem o Breaking Borders e como ele começou?
Breaking Borders - Nós começamos o Breaking Borders no início de 2014. Nosso plano era assistir à Copa do Mundo no Rio e continuar viajando pela América do Sul, documentando lugares e histórias que nos interessassem. Nós sempre usamos nossas viagens pelo mundo como uma forma de entender e registrar questões sociais e políticas. Somos cineastas e fotógrafos. O Breaking Borders é a nossa maneira de levar nosso conteúdo para o mundo.   

Como vocês se conheceram?
Nick e eu nos conhecemos há muito tempo, no jardim de infância, e somos os melhores amigos desde então, por mais de 20 anos. Desde os 12 anos de idade filmávamos juntos, andando de lambreta, bicicleta, e nos metendo em encrenca nas ruas de San Francisco. Tudo registrado, é claro. Nick foi para a faculdade em Los Angeles estudar cinema, e eu fui para Nova York estudar relações internacionais. Aproveitamos o nosso interesse de infância em fazer filmes, e o interesse em comum em relações internacionais e em conhecer o mundo, e começamos a fazer algo mais sério com isso. Nós fomos para o Rio durante a Copa do Mundo, filmamos vários protestos anti-Fifa, percebemos que tínhamos algo especial, e continuamos desde então a fazer jornalismo alternativo.

Quantas cidades vocês visitaram até agora e por que escolheram vir para São Paulo?
Estivemos no Rio durante a Copa, em São Paulo, em Brasília, em Curitiba, em Assunção, em La Paz, em Cusco, em Arequipa, em Lima, em Cartagena e em Bogotá. São Paulo é definitivamente a nossa preferida. Nos tornamos amigos de Denis Russo Burgierman, editor-chefe da [revista] "Superinteressante", na Califórnia, e quisemos visitá-lo em São Paulo depois da Copa. 

Na cidade, quem indicou a vocês os lugares a serem visitados e como vocês levantaram as informações divulgadas no filme?
Denis nos mostrou a cidade e alguns de seus bares e restaurantes favoritos. Além disso, Walker tinha feito muita pesquisa antes de virmos para tentar entender a cidade. Nós rapidamente fizemos amigos, e logo sentimos que pertencíamos à cidade. No fim, foi uma junção da pesquisa de Walker com indicações dos nossos amigos paulistanos.   
  
Vocês dizem no filme que se apaixonaram pela cidade. Quais aspectos a tornam apaixonante?
Nós estávamos planejando ficar na casa de Denis por duas semanas, e acabamos ficando seis semanas. Em muitas cidades do mundo leva um período longo para se apaixonar por elas, mas por São Paulo nos apaixonamos no segundo em que chegamos à estação Tietê. Foi emocionante, diferente, sofisticado, legal. Os três aspectos que mais nos atraíram em São Paulo foram o tamanho, a diversidade e a cultura alternativa rica e vibrante. São Paulo é uma das maiores cidades que nós já vimos, e essa densidade e imensidão produz uma energia incomparável a quase nenhum lugar do mundo. A diversidade de São Paulo é um diferencial, que nos lembrou os Estados Unidos, mas com um toque brasileiro. A grande diversidade se manifesta nos vários restaurantes do mundo todo. A terceira característica [que nos atraiu] foi a cultura alternativa, com São Paulo mostrando algumas das lojas, galerias de arte, bares e restaurantes mais interessantes de toda a América do Sul.

Por que a cidade é a mais "subestimada" do mundo?
A maioria das pessoas sabe muito sobre outras grandes cidades do mundo. As pessoas vão para Tóquio, Paris e Nova York, mas parecem mal saber uma única coisa sobre São Paulo. São Paulo pode ser subestimada por não ter uma atração específica, é tão grande e urbana, e o Rio a ofusca. O Brasil é um dos países mais importantes do mundo, e São Paulo é o coração pulsante disso tudo. 

Esse título pressupõe que a experiência superou as expectativas. O que vocês esperavam da cidade e quais foram as surpresas?
Walker visitou São Paulo em 2007 e desfrutou da cidade. Ao retornar, em 2014, lhe pareceu que a cidade passou por uma enorme transformação e tornou-se um lugar muito mais atrativo para visitar e viver. Não estávamos esperando que as pessoas fossem tão ligadas em tecnologia e conectadas. O que esperávamos antes de vir era uma cidade muito mais maçante, com poucos aspectos exclusivos.

A região central possui altos índices de furtos e roubos. Em algum momento vocês se sentiram ameaçados ou obrigados a tomar precauções?
Nós tomamos cuidado o tempo todo, assim como fazemos em qualquer grande cidade. Não nos sentimos ameaçados ou em perigo em nenhum momento. Nos sentimos mais seguros na região central de São Paulo do que nos sentimos em San Francisco e na maioria das cidades americanas.  
  
Em que medida o apreço pela cidade não se deve ao fato de ser um lugar desconhecido para vocês?
Obviamente nós estivemos na fase de lua-de-mel enquanto permanecemos aí. Nós visitamos muitas cidades pelo mundo, e São Paulo se destacou e capturou nossa atenção mais do que qualquer outra, tanto que planejamos viver nela e continuar fazendo vídeos. As realidades de viver em qualquer grande cidade irão se mostrar ao longo do tempo, mas os pontos positivos superam em muito os negativos no caso de São Paulo.  

Por que vocês acham que o filme fez tanto sucesso?
Acho que o vídeo se tornou tão popular porque os paulistanos não estão acostumados a ver estrangeiros se apaixonando pela cidade deles. Parece que a maior parte dos turistas vai para o Rio ou Buenos Aires e acaba pulando São Paulo. Penso que os paulistanos gostaram do fato de que apreciamos muito a cidade. Acho também que é porque é um dos únicos vídeos no Youtube que mostra a cidade realmente como ela é. Não somente os bares e restaurantes extravagantes dos Jardins, mas um pouco das galerias do centro e dos bares da Vila Madalena. Acho que o vídeo mostrou um lado mais normal de São Paulo, um lado com o qual os paulistanos interagem mais diariamente, e acho que se sentiram conectados com isso.  


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