Folha de S. Paulo


Na disputa por aluno, faculdades mudam formato de ensino

Pressionadas na disputa contra os grandes grupos educacionais, faculdades particulares pequenas e médias têm tentado chamar a atenção dos calouros -e sobreviver- com a adoção de novas formas de ensino.

Conhecidos como aprendizagem ativa, os formatos visam substituir as tradicionais aulas expositivas pelo ensino por meio de participação dos estudantes em projetos ou em discussões em grupo.

"Se não oferecermos algo diferente, não temos mais como competir", disse Fernando Domingues, gerente de novos negócios da Faculdade Eniac, de Guarulhos (SP).

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Estudantes da Faculdade Eniac, em Guarulhos, que mudou o currículo de suas aulas
Estudantes da Faculdade Eniac, em Guarulhos, que mudou o currículo de suas aulas

Não há levantamento oficial sobre quantas instituições já adotaram o modelo para competirem no mercado. A Folha localizou outras duas particulares, Unisal (SP) e Uniamérica (PR).

Há também consórcio com 30 escolas que têm parceria com laboratórios da Universidade Harvard (EUA) para adotar os novos formatos.

COMPETIÇÃO

Faculdades pequenas e médias que atendem as classes C e D têm se deparado com o fortalecimento de grandes conglomerados de ensino no país, que crescem rapidamente desde a década passada, principalmente por meio de aquisições de outras escolas.

Apenas a Kroton (426 mil alunos) e a Estácio (326 mil alunos) concentram atualmente cerca de 10% de todas as matrículas na graduação presencial no país, que possui 2.400 instituições.

Como chegam a ter centenas de milhares de alunos, os grandes grupos conseguem baratear custos e baixar as mensalidades, que podem chegar à metade do preço cobrado pelas concorrentes (que em geral possuem até 10 mil alunos).

Os conglomerados conseguem implementar rapidamente padrões mínimos de qualidade de ensino e de gestão, além de possuírem grande verba publicitária.

As novas formas de ensino são vistas pelas faculdades menores como meio tanto de atração do futuro aluno quanto para evitar que os já matriculados desistam dos cursos (o que significa perda de faturamento).

A tese é que os novos modelos satisfazem mais o estudante do que o modelo tradicional. Para o coordenador de estudos de mercado da consultoria Hoper, Paulo Presse, é uma aposta que faz sentido, mas é arriscada e difícil de implementar.

"Muitas vezes os alunos estranham o formato. E os professores oferecem resistência a mudar a forma de ensinar", disse o consultor.

"De qualquer forma, é inevitável que em alguns anos o modelo esteja amplamente adotado. Inclusive pelos grandes grupos, que têm dificuldades de alterar o modelo de ensino em escala nacional, mas têm investido pesadamente para isso."

A Eniac, de Guarulhos, adotou o modelo de ensino por meio de projetos. Os alunos de gestão, por exemplo, precisam formatar plano de negócios de empresa real logo no primeiro semestre.

A partir deste ano, haverá também atividades aos sábados, em que os estudantes poderão trabalhar esses projetos diretamente com empresas parceiras da região.

Na Unisal, em Lorena (SP), uma das mudanças foi colocar alunos de diferentes engenharias trabalhando em um mesmo projeto. Segundo a instituição, antes das alterações a evasão anual era de 10%; agora, é de 7%.

"As faculdades menores terão de se diferenciar mesmo. Mas não acho que seja por esse modelo de aprendizagem", disse a diretora da associação que representa os grandes grupos, Elizabeth Guedes.

"Nós já usamos isso em diversas áreas, como saúde e engenharia. E temos condições de investir para ter as melhores tecnologia do mundo", afirmou Guedes.


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