Folha de S. Paulo


Na véspera do Réveillon, "pau de selfie" vira moda nas praias do Rio

Rio de sol, de céu, de mar...e de "selfie". A moda nas praias cariocas já foi aplaudir o por do sol, jogar frescobol, praticar stand up paddle –uma prancha com remo– ou slackline –fita para equilibrismo. Agora, a tendência nas areias do Leme ao Pontal é fazer tudo isso, e também registrar a atividade. Mais importante que bater o autorretrato é compartilhar a imagem nas redes sociais.

Nesse sentido, o chamado "bastão de selfie", ou "pau de selfie", como ficou conhecido no mercado popular, é um acessório que se tornou quase essencial. Ele consiste basicamente em um bastão retrátil em que a pessoa acopla sua câmera ou celular na ponta e dispara a foto por um dispositivo com a tecnologia bluetooth.

Na pedra do Arpoador, que faz a divisa entre as praias de Copacabana e Ipanema e de onde se vê o sol se por detrás do Morro Dois Irmãos, uma multidão fazia fila nesta terça-feira (30) para chegar ao extremo da pedra e conseguir a melhor foto. E lá estavam as pessoas com o "pau de selfie" em riste.

A turista argentina Camila Rolon, 18, era uma das que esticava o braço para fazer o clique de si mesma sobre a pedra, com o mar e as montanhas ao fundo. Ela teria comprado o bastão em Buenos Aires- lá o dispositivo também está na moda- mas o câmbio do país a desencorajou. Foi mais barato pagar R$ 120 na praia do Rio do que comprar o equipamento a U$ 200 na Argentina.

Ela está no Brasil pela primeira vez com o pai, a madrasta e dois irmãos. Assistirá à virada de ano na praia de Copacabana e pretende usar seu bastão para quando os fogos estourarem no céu.

"[o selfie] é uma moda, um novo jeito de tirar fotos, mais simples e divertido. E essa paisagem fantástica é perfeita para isso", disse ela, acompanhada da madrasta, a empresária Maria Fernanda Caneva, 47.

O autorretrato, disse Camila, vai para o Instagram. A última foto que postou no Rio rendeu-lhe cerca de 30 curtidas, padrão até baixo se comparado, por exemplo, ao do estudante Thiago Antony Oliveira, 22, de Ribeirão Preto (SP), que a algumas dezenas de metros dali também portava o famigerado equipamento.

Ele, que está hospedado com sua mãe e irmã na casa de sua madrinha, em Ipanema, contou ter recebido 172 curtidas em sua primeira foto no Rio, assim que botou os pés na praia, no último domingo. Ele viu o "pau de selfie" pela primeira vez durante o Caldas Country Show, "o maior evento de música sertaneja do mundo", que ocorreu em novembro, em Caldas Novas (GO).

"É legal que dá para fotografar de vários ângulos e jeitos diferentes", disse ele que comprou seu bastão em Ribeirão por R$ 60.

A professora Ive Diniz, 29, faz frente à popularidade de Oliveira. Natural de Santo André, ela estava acompanhada do marido e outros dois casais. Seu autorretrato com o bastão rendeu-lhe 120 curtidas em uma foto na fila do check in para o Rio no aeroporto de Congonhas (SP). Espera conseguir mais com as fotos do Rio, mas ainda não teve tempo de postá-las na rede. Está ansiosa para ver o resultado as no Cristo Redentor, que conseguiu visitar na última segunda-feira (29) depois de quatro horas na fila.

A praia de Ipanema no último dia 30 estava ideal para os banhistas- sol, mar calmo e água transparente a uma temperatura amena. Um casal elevou o nível de sua selfie e fez uma foto de dentro do mar, com rostos colados e bastão em punho.

Além de moda, o "pau de selfie" trouxe uma solução prática para o casal de Goiás Waldir Cantuário, 33, e Mariana Machado, 25. É comum em viagens de casal ou em dupla que o álbum de fotos seja recheado de imagens de um ou de outro. Para que saiam os dois, é preciso contar com a boa vontade de terceiros e principalmente da habilidade da pessoa com a câmera. Não raro, o resultado fica longe das expectativas.

"O bastão propicia que a gente tire uma foto em uma posição bacana e sem incomodar ninguém" disse ele, que até tirou uma selfie sendo entrevistado pela reportagem. Eles, que pagaram R$ 160 no bastão em Goiás, assistirão aos fogos pela primeira vez e, certamente, com o "pau de selfie" a tiracolo.

O dispositivos é importado da China e seu preço no Rio varia de R$ 50 nos mercados populares do centro e do subúrbio a R$ 120 nas areias das praias da zona sul. O ambulante Thiago Souza dos Santos, 22, vendia o produto, na última terça, na praia de Copacabana, a R$ 80 cada e comemorava o desempenho. Em duas horas ele vendera 83 dos 100 "paus de selfie" que levara.

Cada dispositivo lhe custa R$ 35, o que lhe garante uma boa margem de lucro, mas que lhe exige um investimento alto, de R$ 3.500 na caixa com 100 unidades. O único inconveniente de vender um produto com valor agregado alto na praia é que os brasileiros em geral torcem o nariz e pechincham ao máximo. Os melhores clientes, disse, são os "gringos, que, às vezes pagam com uma nota de cem e não pedem troco". Na noite de Réveillon, o "pau de selfie" inflaciona e vai para R$ 120. "Na virada, vou trazer três caixas".

Na pedra do Leme, na extrema esquerda da praia de Copacabana, crianças pulavam da mureta que margeia a montanha para o mar, de uma altura de três a quatro metros. Turistas tiravam "selfies" e tentavam pegar os garotos no ar antes que mergulhassem na água.

A reportagem presenciou muitos "saltos canivetes", do tipo que a pessoa salta com o corpo encolhido e depois leva as mãos acima da cabeça pouco antes de entrar na água, e outras tantas "bombas", quando a pessoa salta segurando os joelhos e espalha água por todos os lados. Também teve uma senhora barrigada, de um garoto que calculou mal um salto de cabeça. Houve um momento de apreensão, logo debelado quando ele emergiu à superfície com o polegar em sinal de positivo. Seus amigos caíram na gargalhada, e ele deve ter saído em "selfies" de estranhos por aí.


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