Içados por um guindaste, dois homens usavam serras elétricas para cortar em pedaços o eucalipto de aproximadamente 20 metros de altura prestes a desabar sobre uma lanchonete dentro do parque Ibirapuera nesta terça-feira (30).
No chão, frequentadores estacionavam suas bicicletas ou davam uma pausa nas caminhadas para assistir ao "evento".
Essas cenas se repetiram durante o dia todo na área verde mais famosa de São Paulo, um dia após o temporal que derrubou cerca de 434 árvores na cidade num período de 38 horas.
O parque ficou cerca de 10 horas fechado na segunda-feira (29) por causa das quedas de 25 árvores.
Embora reaberto, a remoção de todas deve durar até 15 dias, segundo a prefeitura.
Por onde se passava, havia troncos gigantescos ou galhos enormes de eucaliptos e tipuanas espalhados pelo parque.
O cenário revelava a inevitável quebra de rotina no local, já que em algumas áreas, como nas proximidades do planetário, o acesso era proibido.
O balconista José Luiz Sartorelli, 50, veio de Ribeirão Bonito (260 km de SP) ontem para fazer o último treino no Ibirapuera antes da Corrida de São Silvestre.
Parou tudo para ver a remoção da árvore que só não veio abaixo porque foi "segurada" pela laje de concreto da lanchonete Sabor Ibira, interditada desde a segunda.
"Que trabalho impressionante e perigoso. Sorte que nenhuma dessas árvores caiu sobre ninguém", disse Sarorelli.
A tarefa é demorada e arriscada. Os operários serram pedaços de aproximadamente um metro cúbico, que ficam pendurados por uma corda até serem levados ao chão.
Cada "fatia" pode chegar a meia tonelada.
"A árvore atingiu a laje da lanchonete e ficou tombada, Para retirá-la, só cortando de pedaço em pedaço a partir do topo", explicou Tiago Andrade, supervisor da empresa responsável pelas remoções e podas do parque.
SELFIE NO TRONCO
A enfermeira Rita de Cássia, 30, passou o dia numa caminhada acompanhada da mãe, Isaura, 53, e da sobrinha Gabriela, 8.
"O parque é lindo demais, uma pena ver tantas árvores e galhos espalhados", lamentou Rita.
Mas houve quem aproveitou o "novo cenário" para se divertir, como fez o casal Luciana da Silva, 40, e Marcelo Gomes, 33. Abraçados, fizeram fotos sentados no eucalipto tombado de frente para o lago.
Perto dali, uma profusão de galhos escondia a estátua de um dos mártires do ativismo ambiental no país, assassinado em 1988 no Acre. Mal dava para ver o rosto de bronze de Chico Mendes.