Folha de S. Paulo


Professores da rede pública aprendem a identificar distúrbios psicológicos

Danilo Verpa/Folhapress
Estudante de 17 anos que foi identificada com depressão
Estudante de 17 anos que foi identificada com depressão

Levantou, tomou café, pegou a mochila e saiu para o colégio. Andou meio quarteirão. Eram 7h30. Às 11h30, ainda estava no mesmo lugar. Dali não passou mais.

Havia pouco mais de um mês que G., 17, voltara à escola. O ano anterior fora perdido em casa, longe dos estudos, dos professores e, principalmente, dos outros alunos.

A insistência da mãe a levara de volta à sala de aula, mas por lá nada mudara. Calada, passava os dias a ouvir todo tipo de piadinhas e apelidos.

Finalmente, não aguentou o bullying. Ficou "congelada" por quatro horas na calçada. "Acontecia na sala de aula, alguns professores sabiam, mas não falavam nada." Com medo dos outros alunos, a adolescente também não.

O caminho de volta ao isolamento já estava selado. Ou quase. Antes disso, uma professora desconfiou de que algo não ia bem com a garota.

Recém saída de um programa da Unifesp em parceria com o Estado para identificar possíveis casos de distúrbios psicológicos em alunos da rede pública, Ermínia Angela de Oliveira, 48 (15 deles em escolas), enxergou na menina calada um pedido de ajuda.

"Aprendi a ter um olhar diferenciado para esses alunos", diz Ermínia, professora no Itaim Paulista (zona leste).

Em seu primeiro ano como mediadora -professores destacados pelas escolas para interferir e resolver conflitos ente alunos- Ermínia percebeu rápido que identificar o problema de G., porém, era apenas o primeiro passo.

"Ela não se envolvia", diz Ermínia, que a encaminhou a um psicólogo da rede pública. O diagnóstico: depressão.

Cerca de 75% dos transtornos mentais dão sinais ainda durante a adolescência, explica um dos gestores do programa da Unifesp, Gustavo Mechereffe Estanislau.

Segundo ele, o objetivo é levar conhecimento aos professores, que não são treinados para diagnosticar, mas para informar. Neste ano, 318 professores foram treinados a partir da proposta da Unifesp.

"O objetivo é identificar comportamentos, ajudar a combater o estigma e, se necessário, encaminhar para o serviço adequado", afirma Felippe Angeli, coordenador do Sistema de Proteção Escolar da Secretaria de Educação.

Na quinta (18), mesmo de férias, G. foi ao colégio. Agora, ela é parte do grêmio estudantil e tem novos amigos.


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