Folha de S. Paulo


Em CPI, jovens reclamam de atitude de reitor após casos de estupro na USP

Duas alunas da USP reclamaram da atitude do reitor da instituição, Marco Antonio Zago, durante uma reunião do conselho universitário, realizada no último dia 9, logo após a comoção em torno das denúncias de estupro na Faculdade de Medicina relatadas na assembleia.

Durante o segundo encontro da CPI que investiga violações de direitos humanos em instituições de ensino, as estudantes disseram que foram impedidas de se manifestar contra uma carta, lida pelo leitor, que descrevia serem as denúncias de abuso atos que levam a "ações purificadoras e inquisidoras" que mancham a imagem da instituição.

As jovens, que classificaram a atitude do reitor como assédio moral, disseram que ele se exaltou, impediu a fala delas e cortou o microfone quando elas afirmaram que a universidade deveria se responsabilizar sobre os casos de estupro e também ao contestarem o orçamento da universidade para a permanência estudantil, auxílio financeiro aos estudantes.

Procurada, a assessoria de imprensa da USP não respondeu se o reitor irá se pronunciar.

Uma das representantes dos alunos, Gabriela Ferro, estudante de Relações Internacionais, disse na CPI que, quando da leitura da carta, confrontou o reitor na reunião do conselho universitário, e pediu que ele se retratasse pela palavra "inquisidora".

"Eu disse no conselho que acreditava que o reitor estava minimizando o problema. Mencionei também que ele estava chamando de inquisidores denúncias legítimas de abusos, de estupro e de omissão de investigação pelas quais a universidade deveria se responsabilizar", diz.

"Nesse momento, ele começou a gritar, disse que eu não tinha respeito e cortou o meu microfone. Também um grupo de diretores da instituição me cercou e disse que eu deveria tê-lo chamado de magnífico reitor na minha fala", continua.

Uma outra aluna, Vanessa Couto, estudante de Nutrição da USP, também relatou ter sofrido, o que ela chamou de assédio moral, nessa mesma reunião. Ela diz ter confrontado o reitor sobre o auxílio de permanência estudantil –que destina ajuda financeira a alunos em diversas áreas, como alimentação, transporte e moradia.

"Esse é um tema caro aos estudantes porque luta contra o elitismo da universidade e permite com que alunos negros e de baixa renda tenham condições de continuarem o curso", diz Vanessa.

A aluna diz que o reitor anunciava aumento de 103% no auxílio, mas que ele não é real nem inédito –fato que ela mencionou na reunião do conselho.

"Eu confrontei o reitor e disse que na verdade esse aumento de 103% que ele apresentava como significativo não era um aumento real porque ele havia sido cortado pela metade em 2013", diz. "Eu também mencionei um documento que vazou na imprensa sobre a desvinculação da permanência e eu disse que éramos contra".

"Ele então começou a gritar, disse pra eu me retratar. Também afirmou ser um documento mentiroso, mas contraditoriamente disse que foi um documento retirado do computador dele", continuou a jovem durante sessão da CPI na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo).

Depois de confrontar o reitor, a aluna diz que ele a chamou de volta para esclarecer o que havia dito, mas que era interrompida com frases constantes de que era "incapaz de responder". "Ele pediu pra eu esclarecer mas não deixava eu falar, disse que eu era incapaz de responder sendo que eu estava sendo interrompida e não tinha possibilidade de qualquer resposta", diz.

Dados os depoimentos, a CPI pedirá esclarecimentos a USP sobre o caso. "Nos relatos, há evidências de abuso do poder e assédio", diz Sara Munhoz, deputada pelo PC do B e membro da CPI.


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