Folha de S. Paulo


'Serial killer' confesso foi expulso de casa

Sailson José das Graças, o homem que confessou à Polícia Civil do Rio ter matado 43 pessoas, foi expulso de casa pela mãe aos 17 anos em razão das brigas "insuportáveis" com as irmãs.

O perfil de violência do jovem, relatam alguns de seus familiares, também era demonstrado com hábitos como mutilar animais. "Desde adolescente ele gostava de cortar o rabo dos cachorros e de afogar os gatos. Uma vez vi Sailson cortando em pedacinhos a pata de uma galinha que ficava no quintal", disse uma das tias.

Preso na noite da última terça (9), o rapaz de 26 anos declarou ter cometido assassinatos, ao longo de nove anos, de forma premeditada. Alguns por encomenda –em troca de dinheiro, roupas ou sapatos de marca– e outros, segundo disse, por "prazer". A polícia já identificou sete casos.

Fabio Golcalves/Agencia O Dia/Reuters
Polícia do Rio liga sete mortes a preso que afirma ter assassinado 43
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Com a voz embargada, a mãe de Sailson, que pediu para não ter seu nome divulgado, conversou com a Folha por telefone na noite de sexta-feira (12) e disse que ainda estava "em choque". Nos últimos anos, contou, ela pouco falava com Sailson e só o visitava na prisão.

"Levava comida e dinheiro porque ele comprava as coisas e alguém tinha que pagar. Mas a gente nunca conversava direito. Ele ficava muito na dele e eu tinha que puxar conversa", disse a mãe.

O pai do rapaz morreu quando ele tinha 11 anos. Uma das tias de Sailson disse à reportagem que ele brigava muito em casa e chegou a ameaçar a mãe e a irmã mais velha com uma faca.

A mãe relata que chegou a levar o filho a um psiquiatra, mas o médico avaliou que ele não tinha problema mental e lhe prescreveu um calmante. "Eu passava mal com esse negócio. Tinha medo da agressão. Ele era meio quieto, mas, de repente, ficava nervoso brigando com as irmãs, xingando", contou.

Sobre os crimes assumidos pelo filho, ela diz "não ter palavras". "Essas mortes, se isso for verdade mesmo, fico triste, né? Não tenho nem o que falar", lamentou. Segundo parentes, Sailson se queixava de bullying sofrido na escola pública onde estudava, em Nova Iguaçu (RJ), e dizia se sentir desprezado por meninas brancas.

Essa seria, acreditam, a explicação para o perfil preferencial de suas vítimas. A mãe disse que tentou ajudar o filho de todas as formas. "Ele fez parte de um grupo de jovens na igreja e depois saiu. Passou a implicar muito com a irmã mais novinha que tem depressão e muda de humor. Batia nela", lembra.

A mãe afirmou que Sailson se distanciou mais dela quando conheceu o casal Cleusa Balbina e José Messias, com quem passou a morar. Os dois também foram presos sob suspeita de ter encomendado assassinatos a ele.

PRISÃO

Depois disso, a família conta que ele passou a sair muito à noite e a frequentar bailes funk. Parentes de Sailson dizem que, na última terça, ele voltava de uma festa com Cleusa quando a mulher bateu na casa de uma conhecida para pedir um copo de água. Enquanto isso, o rapaz invadiu a casa pelos fundos e agarrou a mulher pelas costas. Uma vizinha, porém, viu e chamou a polícia.

Ele, então, esfaqueou a dona da casa e foi embora com Cleusa. Levou celular, uma prancha de alisar cabelo e DVDs da vítima. No caminho, lembrou que havia deixado um chinelo e retornou ao local, onde acabou preso.

"Ele sempre confessou os roubos, mas nunca disse para a gente que matou alguém", disse uma tia.

Até as revelações da última semana, Sailson havia tido nove passagens pela polícia. A primeira ocorrência foi em 2006, quando seu ex-padrasto, Ailton Vicente da Silva, o acusou de ameaça.

Testemunhas indicam que ele invadia casas de madrugada, após ter vigiado suas vítimas por pelo menos duas semanas. Afirmaram à Folha que o suposto "serial killer" costumava observar os alvos enquanto fingia ler um jornal nas esquinas das ruas.

"A gente só se deu conta disso agora que ele confessou os crimes. Sempre via ele por aí com um jornal na mão", disse um vizinho.

Colaboraram MARCO ANTÔNIO MARTINS, FABIO BRISOLLA e LUIZA FRANCO


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