Folha de S. Paulo


Papai Noel tem chifres para assustar criança malcriada em Santa Catarina

No interior de Santa Catarina vive um Papai Noel que em nada lembra um bom velhinho: tem chifres, mora no mato, anda armado com um cajado pontiagudo e se veste com folhas e capim.

O Pelznickel (fala-se pélsníquel ou písnique) é um personagem folclórico do Natal em Guabiruba, cidade de colonização alemã a 98 km de Florianópolis. Por causa da pronúncia difícil, também é chamado de Papai Noel do Mato ou Papai Noel Preto.

A criatura surgiu na Alemanha, inspirada em São Nicolau. Como o santo era bondoso demais para ameaçar crianças malcriadas, criou-se alguém para isso. O nome vem de pelz (pelagem) e nickel (diminutivo alemão de Nicolau).

Ao Brasil, diz o historiador Marcelino Kohler, o personagem foi trazido por imigrantes que colonizaram cidades do Sul por volta de 1860.

"O Pelznickel apareceu em algumas regiões da Alemanha para que os filhos tivessem medo de alguma coisa e obedecessem os pais. Não se sabe a data. Sabe-se que o costume foi trazido para Santa Catarina e dura até hoje."

Guabiruba, cidade de 20 mil habitantes onde se aprende o alemão em casa, é a única de Santa Catarina a manter a tradição.

Diz a lenda que o monstrengo sai do mato entre 6 de dezembro, dia de São Nicolau, e o Natal. Pode levar presentes para crianças comportadas ou "arrastar para o mato" as malcriadas.

"Quando era pequeno tinha mais de dez [Pelznickel] nas ruas. Eles cantavam na frente de casa. Depois entravam, e eram muito bravos", recorda-se o aposentado Nicolau Schweigert, 79.

TRADIÇÃO

Há três anos, um grupo de moradores criou a Pelznickelplatz, a praça do Pelznickel.

"Não conhecemos essa tradição em outro lugar do país. Queremos preservá-la e levar o Pelznickel a crianças e adultos", diz Ivan Fischer, da associação que criou o espaço.

No ano passado, 9.700 pessoas visitaram o "vilarejo" no meio da mata, com trilhas iluminadas por tochas, onde se ouve as criaturas arrastando correntes ou amolando ferramentas para o ataque.

"Faz 25 anos que me visto de Pelznickel. No começo não sabia por que me vestia. Fazia porque aprendi com o pai e o opa [avô, em alemão]. Depois vi que isso era parte de nossas vidas", afirma o supervisor de TI Fabiano Siegel, 39.

Quando criança, ele só recebia presentes do Papai Noel do Mato. "Não existia o Papai Noel vermelho", recorda-se.


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